sábado, 26 de fevereiro de 2022

Devaneios cruzadísticos │ Agustina Bessa-Luís

"A Corte do Norte" é o título de uma obra da escritora portuguesa Agustina Bessa-Luís (1922-2019), pedido com a resolução do passatempo de palavras cruzadas, referente ao mês de Fevereiro de 2022.

"A Corte do Norte" é um romance de 1987 e consiste numa epopeia familiar, centrada nos ecos e reflexos que unem várias gerações de personagens femininas pertencentes à mesma família. Foi levada ao cinema pela mão do realizador João Botelho.

Participaram: Aleme; António Amaro; Antoques; Arjacasa; Bábita Marçal; Baby; Caba; Candy; Corsário; Crispim; Donanfer II, Dupla Algarvia (Anjerod e Mister Miguel); El-Danny; Fernando Semana; Filomena Alves; Fumega; Gilda Marques; Homotaganus; Horácio; Jani; João Carlos Rodrigues; Joaquim Pombo; José Bento; José Bernardo; Juse; Mafirevi; Magno; Manuel Amaro; Manuel Carrancha; Manuel Ramos; Maria de Lourdes; My Lord; Neveiva; Olidino; O. K.; Paulo Freixinho; PAR DE PARES; Reduto Pindorama (Agagê, Joquimas e Samuca); Ricardo Campos; Rui Gazela; Russo; Salete Saraiva; Seven; Socrispim; Solitário; Somar; Virgílio Atalaya e Zabeli.

A todos, obrigado.
Até ao próximo.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022

Em dia de aniversário de DMF


Texto de Francisco Simões (escultor) no "Jornal da Madeira", neste dia 24 de Fevereiro de 2022, dia em que, se fosse vivo, o poeta DMF faria 95 anos.


DAVID MOURÃO-FERREIRA, UM MONUMENTO DE PALAVRAS
Saudades de um escultor da Poesia, ele próprio, um Monumento de Palavras.
Faria hoje, dia 24 de Fevereiro, 91 anos. A 16 de Junho de 1996, deixou-nos, fará este ano, 22 anos. E tenho saudades da sua voz, dos seus poemas, da sua prosa e das suas aulas. São imensas as saudades, eu, que desde jovem sou um leitor da poesia de David Mourão-Ferreira. Desde jovem admiro a beleza, a elegância e a mestria da sua escrita. E quando, em 1984, ao preparar a realização de uma exposição, Francisco Faria Paulino sugere o nome de David Mourão-Ferreira para escrever o texto de apresentação do catálogo, a minha resposta foi que a importância e a dimensão do escritor eram incompatíveis com o valor do meu trabalho. No entanto, o pedido foi feito, e foi com grande surpresa e profunda emoção que li o texto no catálogo que, então, se produziu. Tratava-se de Lisboa pintada através de memórias de infância e depois reinventada pela prosa poética de David.

Apressei-me a agradecer-lhe a generosidade que tinha tido para comigo. Nesse encontro iniciámos, talvez por ditame de algum deus, a nossa “secreta viagem”. A humildade, a generosidade, o fascínio da comunicação de David foram, de facto, determinantes para o início dessa caminhada. Separavam-nos vinte anos de idade, e separam-nos milhares de anos de saberes, de cultura, de experiência.

É a partir de então que David passa a ser, além do grande Poeta e do grande Escritor, o grande Amigo, o grande Mestre. E aconteceu-me o mesmo que aconteceu certamente a todos os verdadeiros amigos de David: descobri outras maneiras de me relacionar com a escrita.

A ventura desta amizade torna-nos cúmplices: os dois femininos - Lisboa e a Mulher - centros da obra de David, são também as personagens das minhas duas facetas: na tela, Lisboa; na pedra, a Mulher. E é quando observa e acaricia essas mulheres de pedra (que o poeta diz de seda) que David me manifesta o seu encanto e vibração: talvez porque a pedra é também, na sua poesia, um signo de eleição, ou talvez porque espere que as suas “mulheres de seda” em “pedra se convertam”.

Foram vários e frequentes os nossos momentos de convívio e de trabalho, e sempre deles resultava um constante e frutuoso enriquecimento pessoal. Quando, em 1986, conclui o seu primeiro romance, o David, a quem eu já tanto devia, pede-me, como se de um grande favor se tratasse, que fizesse a capa para o seu livro. Foram de grande prazer e entusiasmo, as horas em que, num grande impulso e pela noite dentro, li em primeira mão as folhas do original de Um Amor Feliz. E, mal fora iniciada a leitura, algum deus me segredou que estava perante um dos mais importantes romances da literatura contemporânea (o David, como grande criador e grande artista, tinha dúvidas e reservas...).

Após o lançamento do romance, estabelecemos um pacto: para cada edição de Um Amor Feliz seria sempre feita uma capa diferente. E tive a convicção, desde a primeira hora, talvez porque o tal deus mo tenha segredado, que muitas iriam ser feitas.

Foi na sequência desta experiência, e um pouco de acordo com o conteúdo do romance, que surgiu O Corpo Iluminado - “uma criatura bifronte”, como o David o definiu. É com a realização deste livro, uma exaltação poética do corpo da mulher, e da forma como foi concebido (a criação poética inspira-se nos desenhos do escultor), que senti com maior intensidade e consciencializei mais profundamente que, na comunhão dos discursos, se estabelecia uma verdadeira cumplicidade nas nossas diferentes linguagens.

Foi uma experiência marcante para a minha obra e o meu percurso. A partir de então, a obra poética e a prosa de David Mourão-Ferreira passaram a fazer parte dos instrumentos do meu atelier e a maioria das minhas esculturas passaram a ter uma ligação vincada às imagens por ele sonhadas. É assim que nascem cerca de vinte capas de livros seus, foi por isso que aconteceram exposições realizadas em Oeiras, em 1995, - onde vinte poemas se casaram com vinte esculturas - e em Coimbra, em 1996, onde trinta e nove esculturas foram acompanhadas de outras tantas poesias e às quais se juntaram cinquenta e cinco desenhos inspirados em textos do poeta.

Uma experiência que, juntos, partilhámos, e esta menos conhecida, diz respeito a uma edição especial e quase clandestina do livro Música de Cama - Antologia de Poesia Erótica.

Vivíamos cada um empenhado na sua obra, mas estabelecendo pontos de encontro nos nossos percursos, e não posso deixar de lembrar um privilégio quase raro que por ele me foi concedido. Por razões que só a amizade justifica, fui das pouquíssimas pessoas a quem o David leu, em fase de criação, os seus livros. Lembro-me de o ter ouvido ler O Jogo de Espelhos, esse magnífico auto-retrato do poeta, e os romances Vino Rosso e Lua da Lapa, em várias etapas dos seus crescimentos. Várias vezes o estimulei para que os terminasse, e, prevendo que o tempo estivesse contra si, insisti na sua conclusão. Com a serenidade que sempre manifestou, disse-me que já não teria tempo para os acabar. Já na fase aguda da sua doença, com muita sensibilidade, inteligência e um grande heroísmo, o David dedicou-se a uma novela a que chamou As Unhas da Gata, que se encontra num estado de construção muito adiantado, e que só não está concluída porque o rigor do ofício de David Mourão-Ferreira o obrigou sempre a um trabalho moroso e lento como o de um escultor. E ele é, na verdade, um grande escultor que nos deixa um grande monumento de palavras. E este monumento é o testemunho de que os Poetas não morrem. É o testemunho de que a obra do David perdurará.

Mas é verdade que morreu a árvore de cujos ramos nasceram alguns dos pomos mais fecundos da nossa poesia. Os Poetas não morrem. Os Amigos também não. Noutra secreta viagem, noutros mares, noutros navios, mas com os mesmos remos, havemos de continuar a navegar.

AMÁLIA COM RAÍZES ORQUENSES?

Um texto breve do meu conterrâneo, o Dr. Joaquim Candeias, historiador. Aqui fica para que conste.

«Tudo indica que sim. Conforme se pode verificar pelo esquema anexo, agora publicado pelo Dr. António da Graça Pereira, um investigador de créditos firmados nos complexos domínios da Genealogia regional, a diva do Fado descendia -- pelo costado paterno -- do casal Bartolomeu Fernandes Seco, de Vale de Prazeres, e de Isabel da Fonseca, da ORCA, casados na Orca a 12.02.1645. Perguntar-me-ão: - E existem ainda hoje, na nossa aldeia, descendentes desse casal (8.ºs Avós da popular cantora)? - SIM, alguns, e eu sou um deles: pelo lado do meu pai, através dos ramos Silva, Penedo, Milheiro e Fonseca, os ditos Bartolomeu e Isabel são também meus 8.ºs Avós».

.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

Agustina no olhar de A. Lobo Antunes



Agustina vem cair de súbito, como uma pedra imensa e estranha, em pleno charco neorrealista.

A partir dos anos trinta as pessoas que escreviam em português, quase todas ligadas ao Partido Comunista ou mais ou menos simpatizantes dele, inauguraram uma fase, muito influenciada por escritores franceses e italianos sobretudo, de romance que se queria social, iniciada talvez por Alves Redol (por quem tenho muito respeito) e Soeiro Pereira Gomes, a que se foram juntando uma imensa quantidade de nomes como por exemplo Fernando Namora, Manuel da Fonseca, Garibaldino de Andrade, Vergílio Ferreira, Mário Braga, Urbano Tavares Rodrigues, Carlos de Oliveira, Mário Dionísio, José Saramago, Antunes da Silva, Augusto Abelaira, etc. porque a lista é infindável, que escreviam histórias de operários bons e patrões maus, como resumia por troça Fernando Assis Pacheco, que a mim, em geral, não me interessavam nada mas que interessavam uns aos outros e eu, adolescente de treze ou catorze anos lia numa aplicação decepcionada

(havia também José Cardoso Pires mas José Cardoso Pires, que viria a ser o meu melhor amigo, era outra loiça)

e, paralelamente a esses, o que existia era outra corrente, protofascista ou, no mínimo, não agressiva para a Ditadura, como por exemplo Joaquim Paço d’Arcos, Francisco Costa, Manuel Frederico Pressler e nomes assim que o tempo varreu também, que me interessavam ainda menos. Não era nada daquilo que eu queria, nem de uns nem de outros, mas não existia muito mais, o que deixava a criança que fui na aflição de encontrar uma voz diferente para a qual não tinha preparação nem experiência, na triste necessidade de construir, de raiz, outro mundo.

O tempo foi varrendo estes autores se bem que um ou outro livro continue ainda (o “Barranco de Cegos”, meia dúzia de contos de Manuel da Fonseca, também bom amigo meu, pouco mais) e julgo que deles quase nada ficará. Mas nos anos 40 e 50 eram extremamente populares, apoiados numa crítica simpatizante do Partido Comunista, ou no mínimo não hostil, que os incensava com exuberância. E eis que de súbito surge no meio disto o primeiro livro de uma mulher chamada Agustina Bessa-Luís, que nada tinha a ver com nenhum destes grupos. Alimentada por Camilo (de quem não sou entusiasta) que por sua vez bebeu em Filinto Elísio (conheço mal mas o grande Bocage apreciava-o muito) aparece com uma prosa completamente diferente, completamente nova, rica, quase barroca, inteiramente inovadora, aguda, inteligente, irónica, riquíssima, surgida do nada (tirando o seu bocadinho de Camilo), de um talento desmedido. Claro que isto não se perdoa, os dois melhores críticos da época, Óscar Lopes hesitou e António José Saraiva leu com entusiasmo, e Agustina foi aumentando a sua obra, segundo regras que não existiam antes dela. As suas personagens não eram bonecos vestidos de ideias que em lugar de pensarem os sentimentos eram pensadas por eles, usava nexos afectivos, não racionais, as suas obras não obedeciam a uma ordenação lógico-discursiva, obedeciam a uma tumultuosa ordenação do caos, a inteligência não era apanágio do autor, era uma característica da escrita, no sentido em que as palavras solucionavam a tessitura de acordo com uma implacável lógica interna, não nos conduzia a parte nenhuma, mergulhava-nos em nós mesmos dando-nos a conhecer o nosso caos interior, descodificando-o e mostrando-nos a sua complexa simplicidade

(parece um paradoxo mas não é)

e construiu uma obra única de catalogação do mundo, uma aprendizagem das luzes e das trevas da qual saímos como quem desperta de um sonho, devorados pela prosa, reduzidos às cinzas de um fogo que nos devolve inteiros a nós mesmos. Aprende-se com ela como as trevas são claras e como tudo é excepcional. Os livros de Agustina são um alimento difícil porque a transgressão sistemática dos nossos conceitos racionais é metodicamente eficaz, substituindo-os por uma espécie de nudez primordial. E sai-se dos romances como de um pesadelo implacável, irónico, terno, violento, doce, obscuro e evidente. Ou seja estivemos a ler uma escritora do tamanho de George Eliot ou Jane Austen. E podemos dar graças a Deus de o seu idioma ser o nosso.

E agora meia dúzia de palavras apenas acerca da Mulher. Gostávamos muito um do outro, eu adorava o seu humor, a ironia da sua lucidez, a sua divertida sabedoria, os seus julgamentos implacáveis.

Uma ocasião disse-me:

– Dou-me tão bem com o meu marido que nos deviam chamar Casal Garcia. Mas tu és lindo, miúdo, e eu devia-me ter casado contigo ou com o Camilo.

Claro que estava a brincar: ela adorava ser metade do Casal Garcia, e a harmonia dessas duas metades comovia-me sempre, como me comoveu uma carta em que, comentando um livro meu, escreveu: “se eu usasse chapéu alto, e devia usar, tirava-o num rasgado gesto”.

E como sabia o que valia não atacava ninguém. Uma grande Senhora. Uma grande Escritora. Agustina, sabe, não sei de qual das duas gosto mais. Se pudesse escolher ficava com ambas. E os seus livros estão vivos: que mais pode desejar? Deixe-me tornar a beijar, como sempre fazia ao encontrá-la, a sua mão.

António Lobo Antunes, in 'Visão' (2017-06-01)

terça-feira, 1 de fevereiro de 2022

Devaneios cruzadísticos │ Agustina Bessa-Luís

2022 é também o ano em que se comemora o 1º centenário do nascimento da escritora Agustina Bessa-Luís, outro nome grande da Língua portuguesa, autora de uma obra vasta que vai do romance à biografia, da crónica aos contos, num percurso único que os seus pares, de José Saramago a António Lobo Antunes, classificam de génio absoluto.

Desde cedo, Agustina revelou ter consciência de que não era uma pessoa convencional. Não foi uma criança comum. Não casou nas circunstâncias que se esperariam de uma rapariga da sua condição social. Não foi a típica esposa e mãe burguesas. Não foi a apoiante política esperada. Nunca se afirmou feminista, mas a sua história de vida foi mais radical e corajosa do que a de muitas feministas convictas. 

Maria Agustina Ferreira Teixeira Bessa-Luís nasceu a 15 de Outubro de 1922, em Vila Meã, Amarante, mas foi sempre uma escritora do Porto. O Douro foi a grande inspiração do seu imaginário romanesco. Publicou a primeira obra de ficção, "Mundo Fechado", aos 26 anos, quando vivia em Coimbra. Dois anos depois fixou residência no Porto e foi já aí que publicou "Super-Homens", o seu primeiro romance.

O romance "A Sibila", publicado em 1954, é muito provavelmente a sua maior referência literária, catalogado, por muitos, como um livro difícil, elevado ao estatuto de obra-prima por outros.

Ao longo da sua vida foi reconhecida pelos seus pares e premiada várias vezes. Entre outros, recebeu o Prémio PEN Clube, o Grande Prémio do Romance e da Novela da Associação Portuguesa de Escritores e o Prémio Camões.

Viu vários dos seus romances a serem adaptados ao cinema pelo amigo e realizador Manoel de Oliveira. Fanny Owen («Francisca»), Vale Abraão, As Terras do Risco («O Convento») e «O Princípio da Incerteza» passaram para o grande ecrã, cujos diálogos foram igualmente escritos por si.

Neste mês, convido os meus amigos a solucionar este passatempo de palavras-cruzadas e, a final, encontrar o nome de um romance (4 palavras todas na horizontal) da escritora portuguesa Agustina Bessa-Luís (1922 – 2019).


HORIZONTAIS: 1 – Mentira; Círculo. 2 – Adorno; Singular. 3 – Interjeição usada para interromper; Obtém [figurado]; Prefixo que exprime a ideia de intensidade. 4 – Padre católico [Timor-Leste]. 5 – Namoro [figurado]; Perfume. 6 – Cordas de enlear. 7 – Simples; Chama. 8 – Idolatra. 9 – De+o [contracção]; Guia [figurado]; Arraial. 10 – Elemento de formação de palavras que exprime a ideia de igual; Grandeza [figurado]. 11 – Trabalho [Angola]; Impudico.

VERTICAIS: 1 – Choque; Homem galanteador [figurado]. 2 – Pão [Moçambique]; Macia. 3 – Então; Deslize; Sufixo nominal, de origem latina, que exprime a ideia de semelhança. 4 – Idade; Elemento de formação de palavras que exprime a ideia de corrente. 5 – Lida; Circular. 6 – Sujeito; Interjeição que exprime satisfação [Brasil]; Soberano. 7 – Fútil; Veneram. 8 – Cântico; Vínculo. 9 – Natural; Incorpora; Símbolo de érbio. 10 – Cativa; Causa. 11 – Obra; Substância anti-séptica do género da creolina.

Clique Aqui para abrir e imprimir o PDF.



Aceito respostas até dia 25 de Fevereiro, inclusive, por mensagem particular no Facebook ou para o meu endereço electrónico, boavida.joaquim@gmail.com. Em data posterior, apresentarei a solução, assim como os nomes dos participantes. 

Vemo-nos por aqui?