[…E já espreitava a porta, esperando a portadora dos pitéus, a rija moça de peitos trementes, que enfim surgiu, mais esbraseada, abalando o sobrado - e pousou sobre a mesa uma travessa a transbordar de arroz com favas. Que desconsolo! Jacinto, em Paris, sempre abominara favas!...Tentou todavia uma garfada tímida – e de novo aqueles seus olhos, que o pessimismo enevoara, luziram, procurando os meus. Outra garfada, concentrada, com uma lentidão de frade que se regala. Depois um brado:
- Óptimo!...Ah, destas favas, sim! Oh que fava! Que delícia!
E por esta santa gula louvava a serra, a arte perfeita das mulheres palreiras que em baixo remexiam as panelas, o Melchior que presidia ao bródio…
- Deste arroz com fava nem em Paris, Melchior amigo!... ]
Eça de Queiroz │A Cidade e as Serras
Assim pude confirmar. Uma delícia! Foi no passado dia 8 que visitei a Fundação Eça de Queiroz, desejo muito antigo. Fui como peregrino, em busca do Jacinto, atravessando serras e serras, num percurso penoso, compensado com paisagens deslumbrantes. "Que beleza!", exclamei com Jacinto. Irresistivelmente, depois da visita, almocei no Restaurante de Tormes, localizado na Fundação. Comunguei com Jacinto: "Deste arroz com fava nem em Paris, Melchior amigo!"
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