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sábado, 24 de maio de 2014

Guarda-Rios, o irmão poeta de Miguel Torga


Conhecia o Rouxinol de Bernardim, «...se veio apousentar um rouxinol, e começou tão docemente a cantar...». 

Conhecia o Rouxinol de Florbela Espanca, «Toda a noite o rouxinol chorou,/Gemeu, rezou, gritou perdidamente!/Alma de rouxinol, alma de gente,/Tu és talvez alguém que se finou!...». 

E, ainda, o poema “Cantilena”, cujo primeiro verso é “Cortaram as asas ao rouxinol”, escrito por Sebastião da Gama em 25 de Novembro de 1946 e escolhido para o segundo livro do poeta, Cabo da Boa Esperança (1947).

Provavelmente, haverá mais. Mas, o que eu desconhecia, era mesmo o Guarda-Rios, de Miguel Torga. O poeta chama-lhe irmão, irmão poeta. É um poema de início de carreira. onde podemos ver já a capacidade de Torga para entender a divindade natureza. Torga, o autor dos “Bichos”, uma espécie de Arca de Noé, como ele lhe chama, que nos fala de homens que são bichos e de bichos que são humanos. Animais com sentir humano e seres humanos vestidos de animais. E este é o poema que Torga nos fala do irmão poeta Guarda-Rios:

Saudação

Não sei se comes peixes, ou não comes,
Irmão poeta Guarda-Rios:
Sei que tens o céu nas asas e consomes
A força delas a guardar rios.

É que os rios são água em mocidade
Que quer correr o mundo e conhecer;
E é preciso guardar-lhe a tenra idade,
Que a não venham beber ...

Ave com penas de quem guarda um sonho
Líquido, fresco, doce:
No meu livro te ponho,
E eu no teu rio fosse ...

Miguel Torga, in Diário II, Barril de Alva, 28 de Setembro de 1942

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