Conhecia o Rouxinol de Bernardim, «...se veio apousentar um rouxinol, e começou tão docemente a cantar...».
Conhecia o Rouxinol de Florbela Espanca, «Toda a noite o rouxinol chorou,/Gemeu, rezou, gritou perdidamente!/Alma de rouxinol, alma de gente,/Tu és talvez alguém que se finou!...».
E, ainda, o poema “Cantilena”, cujo primeiro verso é “Cortaram as asas ao rouxinol”, escrito por Sebastião da Gama em 25 de Novembro de 1946 e escolhido para o segundo livro do poeta, Cabo da Boa Esperança (1947).
Provavelmente, haverá mais. Mas, o que eu desconhecia, era mesmo o Guarda-Rios, de Miguel Torga. O poeta chama-lhe irmão, irmão poeta. É um poema de início de carreira. onde podemos ver já a capacidade de Torga para entender a divindade natureza. Torga, o autor dos “Bichos”, uma espécie de Arca de Noé, como ele lhe chama, que nos fala de homens que são bichos e de bichos que são humanos. Animais com sentir humano e seres humanos vestidos de animais. E este é o poema que Torga nos fala do irmão poeta Guarda-Rios:
Saudação
Não sei se comes peixes, ou não comes,
Irmão poeta Guarda-Rios:
Sei que tens o céu nas asas e consomes
A força delas a guardar rios.
É que os rios são água em mocidade
Que quer correr o mundo e conhecer;
E é preciso guardar-lhe a tenra idade,
Que a não venham beber ...
Ave com penas de quem guarda um sonho
Líquido, fresco, doce:
No meu livro te ponho,
E eu no teu rio fosse ...
Miguel Torga, in Diário II, Barril de Alva, 28 de Setembro de 1942
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