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quinta-feira, 22 de março de 2012

Deus

"como exigir que se saiba que Deus existe ou não existe? Sabê-lo é um milagre para raros, em raros instantes apenas. Eis porque se admite às vezes não estar ninguém certo de ser crente ou descrente."

Vergilio Ferreira, in Invocação ao Meu Corpo (1969)

quarta-feira, 21 de março de 2012

Dia Mundial da Poesia

No início do séc. XX, o insigne pensador espanhol Miguel de Unamuno comentou que Portugal era “um país de poetas e suicidas”, impressionado pelo rol de poetas portugueses que se suicidaram (Antero de Quental, Camilo, Trindade Coelho, etc…) ou se afastaram do mundo para se deixarem morrer (Alexandre Herculano, por ex.).

Hoje, Dia Mundial da Poesia, é dia de falar dos nossos poetas. Apetecia-me deixar aqui uma torrente de poemas que me desassossegam. Impossível.

Como tal, voz aos poetas. O “Cântico Negro” na voz do próprio José Régio.


 

terça-feira, 20 de março de 2012

Prémio Vida Literária 2012


A direcção da Associação Portuguesa de Escritores decidiu, por unanimidade, atribuir a João Rui de Sousa o Prémio Vida Literária 2012.

 José Manuel Mendes, presidente da APE, justificou a distinção por se tratar do autor de uma obra “que vem sendo editada há mais de meio século com grande notoriedade pública…” e de ser expressão de “uma relação intensa com a literatura, tanto na poesia como no ensaio”.

Apenas conheço, confesso,  um livro do escritor ora distinguido: Fernando Pessoa, empregado de escritório.

Recentemente, tive oportunidade de consultar este livro bastante ao pormenor. Dá-nos a conhecer, de uma forma competente e exaustiva, todos os prédios da cidade de Lisboa, em que se situaram os cerca de 20 escritórios, para quem Fernando Pessoa trabalhou como «correspondente comercial em línguas estrangeiras», assim como os prédios onde foram sediadas as firmas comerciais que o poeta ousou criar, em sociedade ou não.

Para quem quer conhecer a faceta do Pessoa, quer como trabalhador por conta de outrem, quer como empreendedor, a consulta daquele livro é incontornável.

segunda-feira, 19 de março de 2012

Aos Nossos Pais


Não conheço muitos poemas, na poesia portuguesa, dedicados ao PAI. Mas, neste dia, lembrei-me deste poema, que eu acho muito bonito, que o Miguel Torga dedicou ao seu pai. Aqui fica.

A vida é feita de nadas:
De grandes serras paradas
À espera de movimento;
De searas onduladas
Pelo vento;

De casas de moradia
Caídas e com sinais
De ninhos que outrora havia
Nos beirais;

De poeira;
De sombra de uma figueira;
De ver esta maravilha:
Meu Pai a erguer uma videira
Como uma mãe que faz a trança à filha.
 

sábado, 10 de março de 2012

Florbela Espanca



Busto de Florbela Espanca, da autoria do escultor Diogo de Macedo, no Jardim Público de Évora 

(…) Sento-me, reconciliado, nos bancos de azulejos, fechados em recantos clandestinos, vou visitar Florbela, olho-a de um banco de madeira que lhe fica em frente, medito com ela. É uma cabeça calma, triste e majestosa. Banha-se de grandeza e gravidade desde a fronte cansada, que verga sobre as mãos em repouso, até ás espáduas largas, em que o pescoço se espraia. Sinto que ela prevaleceu sobre a melancolia dos séculos e que chegou até nós para nos dar testemunho. Não está bem ali, rodeada de lirismo. E imagino-a num limite da cidade, frente à planície deserta, num alto pedestal tocando os astros… (…)

Vergílio Ferreira, in Aparição

quinta-feira, 8 de março de 2012

Dia Internacional da Mulher


A Constituição da República Portuguesa assegura a igualdade no trabalho entre homens e mulheres mas estas continuam a ganhar menos, a ter menos acesso aos lugares de decisão nas empresas, a trabalhar mais horas não remuneradas e a ser as primeiras a perder o emprego.

Todavia, não é repetindo, ano após ano, este ritualismo do Dia Internacional da Mulher, que este estado de coisas se modifica.

Coincidência ou não, estreia-se hoje em Portugal o filme “Florbela”. Segundo li, o filme pretende ser um retrato íntimo de Florbela Espanca, uma mulher que viveu de forma intensa e não conseguiu amar docemente.

Sem olhar, especialmente,  para o dia que hoje se comemora, deixo aqui a minha homenagem a esta poetiza, que me desassossega. O poema Alma Perdida não é dos mais conhecidos, mas eu gosto muito.

Toda a noite o rouxinol chorou,
Gemeu, rezou, gritou perdidamente!
Alma de rouxinol, alma de gente,
Tu és talvez alguém que se finou!

Tu és, talvez, um sonho que passou,
Que se fundiu na dor, suavemente...
Talvez sejas a alma, a alma doente
Dalguém que quis amar e nunca amou!

Toda a noite choraste e eu chorei
Talvez porque, ao ouvir-te, adivinhei
Que ninguém é mais triste do que nós!

Cantaste tanta coisa à noite calma,
Que eu pensei que tu eras a minh’alma
Que chorasse perdida em tua voz!...

Florbela Espanca, in Livro de Mágoas