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segunda-feira, 21 de março de 2011

Eu conto como foi

Ontem, vi mais um episódio que a RTP 1 está a passar ao domingo à noite e que se chama “Conta-me como foi”. Trata-se de um retrato muito interessante de uma família da classe média no tempo da primavera Marcelista. No episódio de ontem, o filho mais velho do casal Lopes, que interrompeu os estudos universitários para ir para a tropa, comunicou à família, com muito custo, que estava mobilizado para Moçambique. Vamos ver, agora, se ele, como uma pessoa que só eu conheço, vai omitir o dia da partida, para evitar dramas maiores. Comovi-me, caramba.

Dia Mundial da Poesia

«O poema obriga a pernoitar na solidão dos bosques, em campos nevados. Que outra verdade existe no mundo para lá daquela que não pertence a este mundo?»
José Tolentino Mendonça, in Diário de Notícias (Madeira)

quinta-feira, 17 de março de 2011

A geração "Os vencidos da vida"

Corre, na NET, um texto do Eça de Queiróz, escrito em 1867, e publicado no jornal “O Distrito de Évora”, que permite discorrer acerca da situação actual,  por se vislumbrar ali um curioso paralelismo entre os dois tempos históricos.

Hoje, está na ordem do dia a “Geração Rasca”, para uns, ou a “Geração à Rasca”, para outros.

O "Protesto da Geração à Rasca", assim intitulado, ocorrido no passado Sábado, recolheu, unanimemente, grandes elogios, tendo-lhe sido apontado, porém, um pequeno (ou grande) senão: não apresentou soluções nem compromissos.

O nosso Eça, também ele, pertenceu (foi aliás um dos grandes vultos) a uma famosa geração, a Geração de 70, a par de Antero de Quental, Oliveira Martins e outros.

Apresentaram um diagnóstico correcto da situação (vide “Causas da Decadência dos Povos Peninsulares”, de Antero de Quental, onde está lá tudo), mas acabaram por não conseguir fazer nada (muito menos executar) para modificar o país.

A “Geração de 70” acabou, como se sabe, na geração "Os Vencidos da Vida”.

E a “Geração à Rasca”?

quarta-feira, 16 de março de 2011

Brincar com o fogo...

O mundo está hoje confrontado com as notícias dramáticas de mais um sismo no Japão, mas desta vez, segundo informação oficial, com uma magnitude de 8,9 na escala de Richter, o mais intenso dos últimos 40 anos.

O Japão é um país distante, mas, não obstante, o povo português contactou aquela gente há mais de 400 anos.

Em 1544, Fernão Mendes Pinto desembarcou na Ilha de Tanixumá, «que é a primeira terra do Japão», como escreveu.

Como é sabido, foram os portugueses que deram a conhecer aos japoneses a espingarda. Fernando Mendes Pinto descreveu-nos assim o espanto dos japoneses ao verem, pela primeira vez, uma arma de fogo:

«Os japões, vendo aquele novo modo de tiros que nunca até então tinham visto, deram rebate disso ao nautoquim que neste tempo estava vendo correr uns cavalos que lhe tinham trazido de fora, o qual espantado desta novidade, mandou logo chamar o Zeimoto ao paul onde andava caçando, e quando o viu vir com a espingarda às costas, e dous chins carregados de caça, fez disto tamanho caso que em todas as cousas se lhe enxergava o gosto do que via, porque como até então naquela terra nunca se tinha visto tiro de fogo, não se sabiam determinar com o que aquilo era, nem entendiam o segredo da pólvora, e assentaram todos que era feitiçaria».

Relata ainda Fernando Mendes Pinto que, uns dias após este episódio, aconteceu um desastre a um filho de El-Rei daquela Ilha de Tanixumá. Aproveitando estar o FMP a dormir, aquele Príncipe levou, sem autorização, a espingarda, e «pondo-lhe fogo, quis a desaventura que arrebentou por três partes...de que o moço logo caiu no chão como morto...». Grande alarme na população indígena: «A espingarda do estrangeiro matou o filho de El-Rei!».

Bem, o nosso FMP, viu-se, de um momento para o outro, em maus lençóis. El-Rei exigiu-lhe, sob pena de morte, que curasse o filho. «E encomendando-me a Deus, e fazendo-me (como se diz) das tripas coração, por ver que não tinha ali outro remédio, e que se assim o não fizesse me haviam de cortar a cabeça, preparei tudo o que era necessário para a cura...». FMP relatou assim como ele se desembaraçou daquela situação, provocada por um mau manuseamento de uma arma de fogo, até então desconhecida daquele povo.

Os jornais de hoje falam-nos de um “Apocalipse” no Japão, com a situação fora de controlo. A situação na central nuclear de Fuxima degrada-se de dia para dia, apesar dos esforços do Governo.

Esta situação de catástrofe levará certamente o governantes daquele país a reflectir seriamente acerca da opção nuclear.

Na verdade, construir centrais nucleares num país que está sentado numa placa tectónica, não parece ser boa e avisada solução.

É, no fundo, brincar com o fogo...

(Livro citado: Peregrinação, de Fernando Mendes Pinto, Edição Europa-América, pág 25, 31, 39 e 43 do Vol.II)

sábado, 12 de março de 2011

Levanta a tua voz

No dia de toda a inquietação, deixo aqui o meu mote para a chamada geração à rasca:

«Grita em voz alta, sem te cansares. Levanta a tua voz como uma trombeta»

Da Bíblia Sagrada

terça-feira, 8 de março de 2011

Chama-lhe Mulher!

MULHER

Chamam-te linda, chamam-te formosa,
Chamam-te bela, chamam-te gentil...
A rosa é linda, é bela, é graciosa,
Porém a tua graça é mais subtil.

A onda que na praia, sinuosa,
A areia enfeita com encantos mil,
Não tem a graça, a curva luminosa
Das linhas do teu corpo, amor e ardil.

Chamam-te linda, encantadora ou bela;
Da tua graça é pálida aguarela
Todo o nome que o mundo à graça der.

Pergunto a Deus o nome que hei-de dar-te,
E Deus responde em mim, por toda parte:
Não chames bela – Chama-lhe Mulher!

Rui de Noronha

domingo, 6 de março de 2011

Parabéns GABO

Gabriel Garcia Marques é o autor de 2 livros simplesmente fabulosos: “Cem Anos de Solidão” e “Amor em tempos de cólera”, que eu, embora já tardiamente, li de supetão. Depois disso, li quase tudo da sua obra. Deixei, para o fim, VIVER PARA CONTÁ-LA, para eu ler se ele morrer antes de mim. Há cerca de 3 anos, recebi, pela primeira vez, o mail que corre na NET em que ele se despede dos amigos, após saber que se encontra gravemente doente. É um texto verdadeiramente comovente. Para felicidade de todos, ele continua entre nós.
Hoje, ele celebra o seu 84º Aniversário. Parabéns, GABO!
Nas sua obras, ele descreve-nos um mundo mítico e fantástico. Escreve no limite, no impossível.
Há algum tempo li, numa entrevista sua, em que confessa ter começado a escrever assim influenciado pela primeira frase com que Franz Kafka inicia o livro A Metamorfose:
«Certa manhã, ao acordar de sonhos inquietos, Gregor Samsa viu-se transformado num gigantesco insecto monstruoso».
Não era para menos!.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Pedro e Inês

Eugénio de Castro nasceu em Coimbra, em 4 de Março de 1969, e foi um poeta português, a quem não tem sido dado o devido valor.
Em 1900 foi publicada CONSTANÇA, «a sua obra mais profundamente portuguesa, aquela em que a sua alma mais conseguiu vibrar em uníssono com a alma do seu povo»,  no dizer de Miguel Unamumo.
Constança foi a esposa do infante D.Pedro, o da desafortunada Inês de Castro, cujos trágicos amores Camões imortalizou.
Esta é a tragédia íntima e silenciosa da pobre esposa que vê como a sua mais fraternal amiga lhe rouba o coração do seu Pedro.
Ainda nas palavras de Miguel Unamuno, a figura de Constança parece um símbolo do próprio Portugal, deste desgraçado Portugal que desde Alcácer-Quibir vive submergido em sonhos de grandezas passadas.
Sem ser de propósito, a Companhia de Teatro O Bando estreia, hoje, a peça Pedro e Inês, peça escrita por Miguel Jesus e encenada por Anatoly Proudin, na qual são são revisitados os amores de Pedro e Inês. Depois dos espectáculos de hoje e amanhã em Guimarães, o Bando fará um périplo por várias cidades do país até chegar ao palco do Centro Cultural de Belém, a 9 de Junho.
Mas parece que, inexplicavelmente, pelo menos para mim, a figura de Constança, a mulher do infante D.Pedro, não entra nesta história. Será possível?

quinta-feira, 3 de março de 2011

Um português na China

O jornal Correio da Manhã noticia, hoje, que a PJ do Porto deteve um cidadão chinês, indiciado por três crimes de tentativa de homicídio.
A comunidade chinesa em Portugal é considerada, em geral, discreta, trabalhadora e pacífica.
Aquele cidadão chinês deve ser, portanto, uma excepção. Se tivesse sido preso na China, iria passar, certamente, um mau bocado.
Aliás, o sistema judicial chinês é conhecido pela sua extrema severidade. E esta severidade não é só de hoje.
Já o nosso Fernão Mendes Pinto, quando chegou à cidade de Pequim, em Outubro de 1541, se espantou com a ordem em que aquele povo vivia:
«Assim que ninguém sai do limite e da ordem que lhe é posta pelos conchalis do governo, que são como almotacéis, sob pena de serem logo por isso gravemente punidos, porque é nesta terra o rei tão venerado e a justiça tão temida, que não há pessoa nenhuma, por grande que seja, que ouse a boquejar nem levantar os olhos para nenhum ministro da justiça, inda que seja upo de açoute, que são como algoses ou beleguins entre nós». (Peregrinação, pág.279, Edição Europa-América)

terça-feira, 1 de março de 2011

Camilo Pessanha

Interrogação

Não sei se isto é amor. Procuro o teu olhar,
Se alguma dor me fere, em busca de um abrigo;
E apesar disso, crê! nunca pensei num lar
Onde fosses feliz, e eu feliz contigo.

Por ti nunca chorei nenhum ideal desfeito.
E nunca te escrevi nenhuns versos românticos.
Nem depois de acordar te procurei no leito
Como a esposa sensual do Cântico dos Cânticos.

Se é amar-te não sei. Não sei se te idealizo
A tua cor sadia, o teu sorriso terno...
Mas sinto-me sorrir de ver esse sorriso
Que me penetra bem, como este sol de Inverno.

Passo contigo a tarde e sempre sem receio
Da luz crepuscular, que enerva, que provoca.
Eu não demoro o olhar na curva do teu seio
Nem me lembrei jamais de te beijar na boca.

Eu não sei se é amor. Será talvez começo...
Eu não sei que mudança a minha alma pressente...
Amor não sei se o é, mas sei que te estremeço,
Que adoecia talvez de te saber doente.

Camilo Pessanha

Já passaram 15 anos...

A vida é tão prodigiosa! Mas desse imenso prodígio como é ínfimo o que aproveitamos para ser o pleno de nós que entregaremos à morte.
(Vergílio Ferreira, in Escrever)