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quarta-feira, 30 de novembro de 2011

O Ano da Morte de Fernando Pessoa


Completam-se hoje 76 anos da morte de Fernando Pessoa. Morreu na madrugada do dia 30 de Novembro de 1935, no Hospital de São Luís dos Franceses, em Lisboa, com um “problemazito” hepático. Tantas vezes apanhado “em flagrante delitro”, como ele se confessou à sua amada Ofélia, foi mais uma vítima daqueles que encontram no álcool um lenitivo para as suas dores existenciais.

Morreu aquele de quem Sophia disse um dia «...E és semelhante a um Deus de quatro rostos/ E és semelhante a um Deus de muitos nomes…»

sábado, 26 de novembro de 2011

Fado como Património Imaterial da Humanidade

Ainda este sábado ou amanhã, a UNESCO poderá anunciar o fado como Património Imaterial da Humanidade. Os responsáveis da candidatura estão bastante confiantes. Existe por aí um grande frenesim quanto ao desfecho da candidatura.

Eu, confesso, não me sinto assim tão entusiasmado.

Quando a Amália Rodrigues começou a cantar fados com letras do poeta Luís de Camões, alguns intelectuais (José Gomes Ferreira e José Cardoso Pires, por exemplo) logo gritaram aqui D´El Rei que o maior vate português não pode estar ao serviço do fado.

Pois, eu penso exactamente o contrário. Apenas gosto de fado quando ele assenta num bom poema, para além, necessariamente, da música que tem que ter qualidade.

Amália Rodrigues soube fazê-lo muito bem, em dada altura da sua carreira, como acontece neste fado, criado a partir do poema “Abandono”, de David Mourão-Ferreira.

Espírito do tempo

           Passagem do tempo por um banco do jardim de Massamá

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

A maior dor humana

Camilo Castelo Branco foi um dos maiores escritores portugueses, dos mais fecundos sem dúvida.

Escreveu também poesia, uma faceta pouco conhecida. Temos de reconhecer que foi um poeta porventura medíocre.

Porém, no dia de hoje, estou obrigado a roubar-lhe o título de um soneto que ele escreveu, inspirado pela morte sucessiva dos dois filhos de Teófilo Braga.

A maior dor humana

Que imensas agonias se formaram
sob os olhos de Deus! Sinistra hora
em que o homem surgiu! Que negra aurora,
que amargas condições o escravizaram!

As mãos, que um filho amado amortalharam,
erguidas buscam Deus. A Fé implora...
E o céu, que respondeu? As mãos baixaram
para abraçar a filha morta agora.

Depois um pai em trevas vai sonhando,
e apalpa as sombras deles onde os viu
nascer, florir, morrer! Desastre infando!

Ao teu abismo, pai, não vão confortos...
És coração que a dor empederniu,
sepulcro vivo de dois filhos mortos.


Camilo Castelo Branco

terça-feira, 22 de novembro de 2011

A modernidade de Fialho de Almeida

                (Retrato pintado por Columbano Bordalo Pinheiro)
                                        
Li no jornal “Público” de hoje que está decorrer em Lisboa, de 21 a 25 do corrente mês, no Palácio da Independência, sede da Sociedade Histórica da Independência de Portugal (SHIP), o Colóquio Internacional Portugal no Tempo de Fialho de Almeida.

Pretende chamar a atenção não apenas para um prosador de elevado mérito mas também para um dos mais esquecidos precursores da nossa modernidade.

Fialho de Almeida nasceu em Vila de Frades em 7 de Maio de 1857 e morreu em Cuba em 4 de Março de 1911. Foi jornalista e escritor pós-romântico português.

Realizou os estudos secundários num colégio de Lisboa, entre 1866 e 1871. Empregou-se numa farmácia e formou-se em Medicina entre 1878 e 1885.

No entanto, não seguiu a carreira profissional, tendo-se dedicado ao jornalismo e à literatura. Em 1893, voltou à sua terra natal, onde desposou uma senhora abastada, que faleceu logo no ano seguinte. Tornou-se lavrador em Cuba, mas continuou a publicar artigos para jornais e a escrever vários contos e crónicas. Entre as suas obras mais notáveis, encontram-se os cadernos periódicos Os Gatos, redigidos entre 1889 e 1894, que seguiram a mesma linha crítica d'As Farpas, de Ramalho Ortigão.

Todavia, a obra de Fialho de Almeida tem sido vista como fragmentária e de qualidade desigual, mas esse carácter, um tanto anárquico, é justamente um dos aspectos que levou a primeira geração modernista, sobretudo Fernando Pessoa, a render-lhe homenagem.

Segundo consta do citado artigo, várias das comunicações deste congresso associam justamente Fialho de Almeida a Fernando Pessoa, em particular ao seu semi-heterónimo Bernardo Soares, seu confesso admirador. Muito interessante…

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Um poema ao corpo




Acabo de reler o romance Em Nome da Terra, de Vergílio Ferreira, escrito em 1989.  Releio muito e espanto-me sempre, porque percebo melhor o que leio, sempre de uma maneira diferente, mais clara, mais lúcida. E isso dá-me muito prazer.

Em Nome da Terra é um poema ao corpo. Corpo deformado, envelhecido pelo tempo, corpo belo da juventude, corpo eterno. João, o protagonista viúvo, reformado e carcomido pela idade, recolhe-se a uma casa de repouso para não ser um peso à família e à sociedade. À filha Márcia deixara-lhe tudo: a casa, os móveis, os livros. Consigo levou apenas a memória, um Cristo mutilado, um desenho de Dürer, uma estampa a cores de um fresco de Pompeia associados em tríptico, e um concerto para oboé de Mozart. Os quatro motivos materiais são aquilo que chamamos os símbolos deste romance. É com eles e por eles que João vai tecer analogias relativas ao corpo, à morte, ao esplendor e à beleza. São uma das linhas orientadoras da reflexão do escritor ao longo de toda a narrativa, já que tinha esses objectos no seu quarto do lar e em todas as horas se defrontava com eles.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

José Saramago

Se fosse vivo, o escritor José Saramago completaria, hoje, 89 anos. Para celebrar o aniversário, é feito hoje o lançamento oficial do livro Clarabóia.

«Claraboia é a história de um prédio com seis inquilinos sucessivamente envolvidos num enredo. Acho que o livro não está mal construído. Enfim, é um livro também ingénuo, mas que, tanto quanto me recordo, tem coisas que já têm que ver com o meu modo de ser».  Disse José Saramago.

Comprei o livro há uns dias. Vou a meio, mas dá para ver que estamos perante um livro de início de carreira e como José Saramago progrediu, e de que maneira, na sua forma de escrever.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011


Grandes Livros é uma série documental da RTP-2 que dedicou cada um dos seus 12 episódios a uma obra-prima da literatura nacional e ao seu autor.

A RTP-2 está a repetir essa série e ontem assisti ao episódio dedicado ao romance Mau Tempo no Canal, de Vitorino Nemésio.

Mau Tempo no Canal é um romance publicado em 1949. A acção decorre nas ilhas do Faial, Terceira, Pico e na ilha de São Jorge entre 1917 e 1919 e retrata a sociedade açoriana, mais justamente, a sociedade estratificada da cidade da Horta, local onde decorre a intriga principal e onde Vitorino Nemésio se encontra nesta altura da sua vida.

Mau Tempo no Canal conta, num ritmo lento, uma quantidade de histórias numa só, é uma trama que enreda uma série de sucedidos e cujo ponto de apoio mais evidente é a relação entre dois personagens (pouco apaixonante), entre duas famílias e entre dois estratos sociais.

O ritmo é, na verdade, bastante lento. Vitorino Nemésio excede-se em pormenores acerca da sociedade açoriana e não resiste em mostrar a sua erudição acerca de uma grande variedade de assuntos, estendendo em demasia o romance.

De todo o modo, parece não haver dúvidas que estamos perante uma das principais narrativas em língua portuguesa da primeira metade do Séc. XX, a par de, segundo os críticos, de Húmus, de Raul Brandão, A Confissão de Lúcio, de Mário de Sá-Carneiro e O Jogo da Cabra, de José Régio.

domingo, 13 de novembro de 2011

Um poema de Sophia


MEDITAÇÃO DO DUQUE DE GANDIA
SOBRE A MORTE DE ISABEL DE PORTUGAL


Nunca mais
a tua face será pura limpa e viva,
nem teu andar como onda fugitiva
se poderá nos passos do tempo tecer.
E nunca mais darei ao tempo a minha vida.

Nunca mais servirei senhor que possa morrer.
A luz da tarde mostra-me os destroços
do teu ser. Em breve a podridão
beberá os teus olhos e os teus ossos
tomando a tua mão na sua mão.

Nunca mais amarei quem não possa viver
sempre,
porque eu amei como se fossem eternos
a glória, a luz e o brilho do teu ser,
amei-te em verdade e transparência
e nem sequer me resta a tua ausência,
és um rosto de nojo e negação
e eu fecho os olhos para não te ver.
Nunca mais servirei senhor que possa morrer.

Sophia de Mello Breyner Andresen

sábado, 12 de novembro de 2011

Malabarice, que palavra curiosa!

Há dois dias, liguei a televisão quando estava a transmitir, num dos canais, em directo da Assembleia da República, a discussão do Orçamento para 2012.

De repente, a minha alma exaltou. «Malabarice é filho de malabarismo com aldrabice», disse o bloquista Louçã, que então discursava.

Malabarice, que palavra curiosa!

Percebi, depois, que respondia ao nosso Primeiro-Ministro que antes havia dito “O Orçamento para 2012 não tem malabarices com as cativações como aconteceu no passado".

Eu não sei onde é que o nosso Primeiro-Ministro foi buscar este vocábulo. Será que o nosso Primeiro-Ministro anda a ler Mia Couto? Não vejo outra fonte de inspiração possível. Se foi, está de parabéns.

Mia Couto tem já no panorama da literatura portuguesa um estatuto incontestado que se deve não só à forma como descreve e trata os problemas, mas principalmente à inventiva poética da sua escrita, numa permanente descoberta de novas palavras.

Mia Couto é um mágico da língua, criando, apropriando, recriando, renovando a língua portuguesa.

Mas agora, pelos vistos, Mia Couto tem, quando menos se esperava, um concorrente de peso na recriação da língua portuguesa.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

O Museu do Neo-Realismo em Vila Franca de Xira

Há dois dias, na companhia dos meus amigos do Clube de Leitura Roque Gameiro, visitei o Museu do Neo-Realismo, em Vila Franca de Xira, que está instalado num belo edifício projectado pelo arquitecto Alcino Soutinho.

O Neo-Realismo foi uma corrente artística de meados do século XX, com um carácter ideológico marcadamente de esquerda marxista e este aspecto, ainda que subtilmente, está patente em toda a exposição.
A primeira impressão dos visitantes, logo ao entrar, é a figura tutelar do escritor Alves Redol. O rés-do-chão é exclusivamente dedicado a Alves Redol, sendo o espaço da entrada principal do edifício ocupado, magnanimamente, por uma estátua sua, da autoria do escultor Lagoa Henriques. Nos outros dois andares, a figura deste escritor nunca deixa de estar bem presente.

Alves Redol compreendeu a literatura como forma de intervenção social, sendo um dos seus primeiros romances, Gaibéus, de 1939, considerado um dos textos literários fundadores da narrativa neo-realista. Tal postura valeu-lhe um grande êxito junto de um grande público, mas também, ao mesmo tempo, um ataque da crítica, que apontava como deficiências de escrita a linguagem simples da sua prosa. Acusações que o próprio Alves Redol de certa forma aceitou, vindo a afirmar, nos anos 60, que "Este romance não pretende ficar na literatura como obra de arte. Quer ser, antes de tudo, um documentário humano fixado no Ribatejo. Depois disso, será o que os outros entenderem". Pode-se dizer que a sua obra evoluiu de uma primeira fase mais impulsiva para uma outra caracterizada por um maior amadurecimento de análise e por um maior aperfeiçoamento formal. O romance Barranco dos Cegos, publicado em 1962, é considerada a sua melhor obra.

Por agora, deixo aqui uma pergunta. Será que a obra de Alves Redol se sobreleva assim tanto sobre a dos restantes vultos neo-realistas (Soeiro Pereira Gomes, Manuel da Fonseca, Carlos Oliveira, Mário Dionísio, Joaquim Namorado, Fernando Namora, etc..) justifica o destaque que o Museu lhe outorga?

terça-feira, 8 de novembro de 2011

O poeta do Marão

«O aperfeiçoamento da Humanidade depende do aperfeiçoamento de cada um dos indivíduos que a formam. Enquanto as partes não forem boas, o todo não pode ser bom. Os homens, na sua maioria, são ainda maus e é, por isso, que a sociedade enferma de tantos males. Não foi a sociedade que fez os homens; foram os homens que fizeram a sociedade».
Teixeira de Pascoaes, in "A Saudade e o Saudosismo"

Passam hoje 134 anos sobre o nascimento de Teixeira de Pascoais, poeta e escritor português, representante do Saudosismo.

Passou maior parte da sua vida no solar de família em São João de Gatão, perto de Amarante, com a mãe e outros membros da sua família. Dedicou-se à gestão das propriedades, à incansável contemplação da natureza e da sua amada Serra do Marão.

Em Maio último estive na casa de São João da Gatão, aonde fui como peregrino. A família insiste em manter na sua posse o espólio do poeta, mas eu, depois de ver o que vi, estou longe de pensar que seja a melhor solução. É pena.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

A inspiração dos poetas

Ruy Belo nasceu em 1933, em São João da Ribeira, Rio Maior e morreu em 1978, em Queluz, com apenas 55 anos. Foi poeta e ensaísta.

Apesar do curto período de actividade literária, Ruy Belo tornou-se um dos maiores poetas portugueses da segunda metade do século XX, tendo as suas obras sido reeditadas diversas vezes.

A passagem dos 50 anos sobre a publicação da primeira obra de Ruy Belo, Aquele Grande Rio Eufrates, é assinalada, na Fundação Gulbenkian, em Lisboa, com um colóquio internacional, que decorre hoje e amanhã.

Sobre este evento, a Antena 1 foi ouvir, hoje, a viúva do poeta, Maria Teresa Belo. Conta ela que ambos gostavam muito de nadar na praia e que até tinham o hábito de se afastarem um bocado da costa e que, numa dessas vezes, poeta disse de repente para a mulher:
- Vamos depressa para a praia porque tenho aqui um poema para escrever já.
Ai esta inspiração dos poetas que chega quando menos se espera!

Também uma vez, andando à caça em S. Martinho de Anta, que tanto amava, o Miguel Torga falhou um tiro a uma perdiz. Logo, um companheiro lhe disse:
- Como falhou o tiro, Doutor?
- Estava-se-me a desenrolar um poema - respondeu o Miguel Torga.
Ai esta inspiração dos poetas!

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

O Seminarista

Acabei de ler há dias um romance do escritor brasileiro Rubem Fonseca, O Seminarista. Trata-se de um romance curto, movimentado e, como um filme de Quentin Tarantino, divertido apesar das cenas ultraviolentas.

O personagem principal do romance O Seminarista chama-se José, gosta de árvores, torce pelo Vasco da Gama, considera o vinho a única bebida digna de acompanhar uma refeição, ouve rock, é apaixonado por poesia. Torce pelo Vasco da Gama, equipa carioca associada aos descendentes de portugueses, como ele.

Rubem Fonseca nasceu em 1925, no Brasil, em Juiz de Fora. É formado em Direito, tendo exercido várias actividades antes de se dedicar inteiramente à literatura. Em 2003 venceu o Prémio Camões, o mais prestigiado galardão literário para a Língua Portuguesa.

A cor da liberdade

Passam hoje 92 anos sobre o nascimento de Jorge de Sena, o poeta que não queria morrer sem saber qual a cor da liberdade.

Não hei-de morrer sem saber
Qual a cor da liberdade.
Eu não posso senão ser
Desta terra em que nasci.
Embora ao mundo pertença

E sempre a verdade vença,
Qual será ser livre aqui,
Não hei-de morrer sem saber.
Trocaram tudo em maldade,
É quase um crime viver.

Mas embora escondam tudo
E me queiram cego e mudo,
Não hei-de morrer sem saber
Qual a cor da liberdade.

1974

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Viagem a Portugal

                                          
                            Igreja da Misericórdia de Penamacor

Igreja manuelina provavelmente construída no início do Séc. XVI, onde se destaca a inegável harmonia dos diferentes elementos do portal.