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terça-feira, 27 de dezembro de 2022

Devaneios cruzadísticos │ Eça de Queiroz

"A Cidade e as Serras" é o título de uma obra do escritor português Eça de Queiroz, pedido com a resolução do passatempo de palavras cruzadas, referente ao mês de Dezembro de 2022.


Recebi respostas de: Aleme; António Amaro; Antoques; Arjacasa; Bábita Marçal; Baby; Caba; Candy; Corsário; Crispim; El-Danny; Elvira Silva; Filomena Alves; Fumega; Gilda Marques; Homotaganus; Horácio; Jani; João Carlos Rodrigues; Joaquim Pombo; José Bento; José Bernardo; Juse; Mafirevi; Magno; Manuel Amaro; Manuel Carrancha; Manuel Ramos; Maria de Lourdes; My Lord; Neveiva; Olidino; O. K.; PAR DE PARES; Reduto Pindorama (Agagê, Joquimas e Samuca); Ricardo Campos; Rui Gazela; Russo; Salete Saraiva; Sepol; Seven; Socrispim; Solitário; Somar; Virgílio Atalaya e Zabeli.

A todos, obrigado.

Até ao próximo. 


quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

Vem aí o Natal

Dia de Natal

Hoje é dia de ser bom.
É dia de passar a mão pelo rosto das crianças,
de falar e de ouvir com mavioso tom,
de abraçar toda a gente e de oferecer lembranças.
É dia de pensar nos outros – coitadinhos – nos que padecem,
de lhes darmos coragem para poderem continuar a aceitar a sua miséria,
de perdoar aos nossos inimigos, mesmo aos que não merecem,
de meditar sobre a nossa existência, tão efémera e tão séria.

Comove tanta fraternidade universal.
É só abrir o rádio e logo um coro de anjos,
como se de anjos fosse,
numa toada doce,
de violas e banjos,
entoa gravemente um hino ao Criador.
E mal se extinguem os clamores plangentes,
a voz do locutor
anuncia o melhor dos detergentes.

De novo a melopeia inunda a Terra e o Céu
e as vozes crescem num fervor patético.
(Vossa excelência verificou a hora exacta em que o Menino Jesus nasceu?)
Não seja estúpido! Compre imediatamente um relógio de pulso antimagnético.)
Torna-se difícil caminhar nas preciosas ruas.
Toda a gente acotovela, se multiplica em gestos esfuziante,
Todos participam nas alegrias dos outros como se fossem suas
e fazem adeuses enluvados aos bons amigos que passam mais distante.

Nas lojas, na luxúria das montras e dos escaparates,
com subtis requintes de bom gosto e de engenhosa dinâmica,
cintilam, sob o intenso fluxo de milhares de quilovates,
as belas coisas inúteis de plástico, de metal, de vidro e de cerâmica.

Os olhos acorrem, num alvoroço liquefeito,
ao chamamento voluptuoso dos brilhos e das cores.
E como se tudo aquilo nos dissesse directamente respeito,
como se o Céu olhasse para nós e nos cobrisse de bênçãos e favores.

A oratória de Bach embruxa a atmosfera do arruamento.
Adivinha-se uma roupagem diáfana a desembrulhar-se no ar.
E a gente, mesmo sem querer, entra no estabelecimento
e compra – louvado seja o Senhor! – o que nunca tinha pensado comprar.

Mas a maior felicidade é a da gente pequena.
Naquela véspera santa
a sua comoção é tanta, tanta, tanta,
que nem dorme serena.
Cada menino abre um olhinho
na noite incerta
para ver se a aurora já está desperta.
De manhãzinha
salta da cama,
corre à cozinha em pijama.

Ah!!!!!!!

Na branda macieza
da matutina luz
aguarda-o a surpresa
do Menino Jesus.

Jesus,
o doce Jesus,
o mesmo que nasceu na manjedoura,
veio pôr no sapatinho
do Pedrinho
uma metralhadora.

Que alegria
reinou naquela casa em todo o santo dia!
O Pedrinho, estrategicamente escondido atrás das portas,
fuzilava tudo com devastadoras rajadas
e obrigava as criadas
a caírem no chão como se fossem mortas:
tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá.
Já está!
E fazia-as erguer para de novo matá-las.
E até mesmo a mamã e o sisudo papá
fingiam
que caíam
crivados de balas.

Dia de Confraternização Universal,
dia de Amor, de Paz, de Felicidade,
de Sonhos e Venturas.
É dia de Natal.
Paz na Terra aos Homens de Boa Vontade.
Glória a Deus nas Alturas.

António Gedeão, in "Antologia Poética"

terça-feira, 13 de dezembro de 2022

Vem aí o Natal!

«[…] A criança, com duas longas lágrimas na face magrinha, murmurou:
— Oh mãe! Jesus ama todos os pequenos. E eu ainda tão pequeno, e com um mal tão pesado, e que tanto queria sarar!
E a mãe, em soluços:
— Oh meu filho, como te posso deixar? Longas são as estradas da Galileia, e curta a piedade dos homens. Tão rota, tão trôpega, tão triste, até os cães me ladrariam da porta dos casais. Ninguém atenderia o meu recado, e me apontaria a morada do doce rabi. Oh filho! Talvez Jesus morresse... Nem mesmo os ricos e os fortes o encontram. O Céu o trouxe, o Céu o levou. E com ele para sempre morreu a esperança dos tristes.
De entre os negros trapos, erguendo as suas pobres mãozinhas que tremiam, a criança murmurou:
— Mãe, eu queria Ver Jesus...
E logo, abrindo devagar a porta e sorrindo, Jesus disse à criança:
— Aqui estou.»
 
Eça de Queiroz, “O Suave Milagre” (excerto), in Contos

quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

Lisboa, nos passos de Eça de Queiroz

Um passeio por alguns pontos da cidade de Lisboa na companhia de Eça de Queiroz:

A Casa Havaneza (Largo do Chiado)
Era, ao tempo de Eça de Queiroz, tabacaria, florista e agência de notícias. Na época tinha um letreiro em francês (tinha que ser) Maison Havanaise, depôt de tabacs, etc…entretanto, sofreu várias alterações.
É citada em vários romances do Eça. Escolhi este texto de “A Correspondência de Fradique Mendes”, onde o narrador vai encontrar-se pela primeira vez com o célebre Fradique:
[…] E, se eu desejava conhecer um homem genial, que esperasse ao outro dia, Domingo, às duas, depois da missa do Loreto, à porta da Casa Havaneza. — Valeu? Às duas, religiosamente, depois da missa! Bateu-me o coração. Por fim, com um esforço, como Novalis no patamar de Hegel, afiancei, pagando os sorvetes, que ao outro dia, às duas, religiosamente, mas sem missa, estaria no portal da Havaneza! […]  

Livraria Bertrand (Rua Garret, 73-75)
Este estabelecimento existe desde 1732, aqui localizado desde 1773. 
Na novela Alves & C,’, Godofredo avista à porta desta livraria, Alexandre Herculano: […] Um momento parou, a olhar com respeito um grande homem, um grande poeta, um grande historiador, que nesse momento, de velho casaco de lustrina e chapéu de palha, conversava à porta da Bertrand, com o seu enorme lenço de ramagens preparado para se assoar […]. Godofredo admirava-lhe os romances e o estilo. 
Igualmente n’ Os Maias esta livraria personaliza a narrativa geográfica quando no final do romance Carlos da Maia e João de Ega se deslocam a pé do Hotel Bragança, pelo Chiado, em direcção ao Rossio e à Avenida da Liberdade para verem as obras do seu prolongamento para norte da cidade: Foram descendo o Chiado. Do outro lado, os toldos das lojas estendiam no chão uma sombra forte e dentada. [...] Depois, diante da Livraria Bertrand, Ega, rindo, tocou no braço de Carlos: — Olha quem ali está, à porta da Baltresqui! Era o Dâmaso [...]  (p. 697).

Rua de S.Marçal
Perpendicular à Rua da Escola Politécnica, passa à ilharga do Instituto Britânico, que foi morada do célebre Alves dos Reis. Aqui residiam os Condes de Gouvarinho, d’Os Maias, ela amante de Carlos da Maia, ele par do reino e homem de Estado. A Gouvarinho, num tom amargo, queixava-se que, já por duas vezes, Carlos faltara ao rendez-vous em casa da Titi, sem lhe ter sequer escrito uma palavra; ela vira nisto uma ofensa, uma brutalidade; e vinha agora intimidá-lo, em nome de todos os sacrifícios que por ele fizera, a que aparecesse na Rua de S. Marçal, Domingo ao meio-dia, para terem uma explicação definitiva antes de ela partir para Sintra (p. 421).

lgreja dos Mártires (Rua Garrett)
Esta igreja do século XVIII, tida na sua raiz como a primeira igreja católica da cidade, foi totalmente arrasada com o terramoto de 1755. Aqui foi baptizado Camilo Castelo Branco, a 14 de Abril de 1825, e tal como no caso de Eça de Queiroz, com a omissão do nome da mãe. Esta igreja está ligada também ao poema de Fernando Pessoa "O sino da minha aldeia", que foi identificado pelo poeta como o da Igreja dos Mártires, muito perto da casa do Largo de São Carlos onde ele nasceu, do outro lado da Rua Serpa Pinto. Essa igreja foi palco de um episódio d’O Primo Basílio, quando Luísa corre a refugiar-se nela, durante o passeio célebre, a pé, que enceta com o Conselheiro Acácio, iniciado acima do Jardim de S. Pedro d’Alcântara, na embocadura da Rua da Rosa, passa pelo Chiado e termina no Rossio. Com hora marcada para se encontrar com o primo Basílio no «Paraíso» e acompanhada pelo empecilho tenaz do Conselheiro que não a larga, Luísa entrou na igreja desesperada. Ficou de pé debaixo do coro, calculando: "Demoro-me aqui, ele cansa-se de esperar e vai-se!" Por cima, reluziam vagamente os pigmentos de cristal dos lustres. Havia uma luz velada, igual, um pouco fosca. E as arquitecturas caiadas, a madeira muito lavada do soalho, as balaustradas laterais de pedra davam uma tonalidade clara e alvadia, onde destacavam os dourados da capela, os frontais roxos do púlpito, ao fundo dos reposteiros de um roxo mais escuro, e sob o dossel cor de violeta os ouros do trono.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

Devaneios cruzadísticos │ Eça de Queiroz

Em Outubro passado, o AlegriaBreve visitou a Fundação Eça de Queiroz, na Quinta de Tormes, em Santa Cruz do Douro, concelho de Baião. Foi uma das mais comedoras lembranças do viajante AlegriaBreve, talvez um dia volte, talvez não volte nunca, talvez até evite voltar. 

Aqui fica mais uma evocação do grande escritor que foi Eça de Queiroz. Nasceu a 25 de Novembro de 1845, na Póvoa de Varzim, filho de um magistrado, também ele escritor, e morreu a 16 de Agosto de 1900, em Paris. 

É considerado um dos maiores romancistas da literatura portuguesa, o primeiro e principal escritor realista português, renovador profundo e perspicaz da nossa prosa literária.

Entrou para o Curso de Direito em 1861, em Coimbra, onde conviveu com muitos dos futuros representantes da Geração de 70, já então aglutinados em torno da figura carismática de Antero de Quental, e onde acedeu às recentes ou redescobertas correntes ideológicas e literárias europeias: o Positivismo, o Socialismo, o Realismo-Naturalismo, sem, contudo, participar ativamente na que seria a primeira polémica dessa geração, a Questão Coimbrã (1865-1866).

Terminado o curso, iniciou a sua experiência jornalística como redator do jornal "O Distrito de Évora" (1866) e como colaborador na "Gazeta de Portugal", onde publicou muitos dos textos, postumamente reeditados no volume das "Prosas Bárbaras". 

No final desse ano, formou-se o "Cenáculo", de que viriam a fazer parte, nesta primeira fase, além de Eça, Jaime Batalha Reis, Ramalho Ortigão, Oliveira Martins e Salomão Saragga, entre outros. Após uma viagem pelo Oriente, para assistir à inauguração do canal de Suez como correspondente do "Diário Nacional", regressou a Lisboa, onde participou, com Antero de Quental e Jaime Batalha Reis, na criação do poeta satânico Carlos Fradique Mendes e escreveu, em 1870, em parceria com Ramalho Ortigão, o "Mistério da Estrada de Sintra". 

No ano seguinte, proferiu a conferência "O Realismo como nova expressão da Arte", integrada nas Conferências do Casino Lisbonense No mesmo ano, iniciou, novamente com Ramalho, a publicação de "As Farpas", crónicas satíricas de inquérito à vida portuguesa.

Em 1872, iniciou também a sua carreira diplomática, ao longo da qual ocuparia o cargo de cônsul sucessivamente em Havana (1872), Newcastle (1874), Bristol (1878) e Paris (1888). O afastamento do meio português - aonde só vinha muito espaçadamente - não o impediu de colaborar na nossa imprensa, com crónicas e contos. 

Aliás, foi em Inglaterra que Eça escreveu a parte mais significativa da sua obra, através da qual se revelou um dos mais notáveis artistas da língua portuguesa. Foi, pois, com o distanciamento crítico que a experiência de vida no estrangeiro lhe permitiu que concebeu a maior parte da sua obra romanesca, consagrada à crítica da vida social portuguesa, de onde se destacam "O Primo Basílio" (1878), "O Crime do Padre Amaro" (2.ª edição em livro, 1880), "A Relíquia" (1887) e "Os Maias" (1888), este último considerado a sua obra-prima. Parte da restante obra foi publicada já depois da sua morte, cuja comemoração do seu centenário teve lugar no ano 2000.

Na obra deste vulto máximo da literatura portuguesa, criador do romance moderno, distinguem-se usualmente três fases estéticas: a primeira, de influência romântica, que engloba os textos posteriormente incluídos nas "Prosas Bárbaras" e vai até ao "Mistério da Estrada de Sintra"; a segunda, de afirmação do Realismo, que se inicia com a participação nas Conferências do Casino Lisbonense e se manifesta plenamente nos romances "O Primo Basílio" e "O Crime do Padre Amaro"; e a terceira, de superação do Realismo-Naturalismo, espelhada nos romances "Os Maias" e "A Ilustre Casa de Ramires".

Convido os meus amigos a solucionar este passatempo de palavras-cruzadas e encontrar, a final, o título (5 palavras nas horizontais) de uma obra do escritor português Eça de Queiroz (1845-1900).

HORIZONTAIS: 1 – Sovas; Cova. 2 – Urbe; Uno. 3 – Envaidecido; Elemento de formação que exprime a ideia de cauda. 4 – Dinheiro [coloquial]; Querer. 5 – Sufixo nominal, de origem latina, que exprime a ideia de semelhança; Retirado. 6 – Difícil; Edição [abreviatura]; Vaticina; Aquelas. 7 – Mergulhas; Liga dos Combatentes [sigla]. 8 – Flor; Partida. 9 – Lado; Vales. 10 – Interjeição que exprime espanto; Patranhas. 11 – Bonitos; Centro [figurado].

VERTICAIS: 1 – Imoral; Saís. 2 – Nota musical; Resuma. 3 – Indivíduo que foi vítima da sua própria ambição; Joeira. 4 – Fusão da última sílaba de uma palavra com a primeira da palavra seguinte. Sopro. 5 – Qualidade; Causa; Rasga. 6 – Suportes; Tiras [Brasil]. 7 – Graúdo; Outra coisa [antiquado]; Pesar. 8 – Responsável; Animas. 9 – Indivisível; Passe. 10 – Salgada; Como. 11 – Meiga; Toque.

Clique Aqui para abrir e imprimir o PDF.


Aceito respostas até dia 25 de Dezembro, inclusive, por mensagem particular no Facebook ou para o meu endereço electrónico, boavida.joaquim@gmail.com. Em data posterior, apresentarei a solução, assim como os nomes dos participantes. 

Vemo-nos por aqui?