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quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

Lisboa, nos passos de Eça de Queiroz

Um passeio por alguns pontos da cidade de Lisboa na companhia de Eça de Queiroz:

A Casa Havaneza (Largo do Chiado)
Era, ao tempo de Eça de Queiroz, tabacaria, florista e agência de notícias. Na época tinha um letreiro em francês (tinha que ser) Maison Havanaise, depôt de tabacs, etc…entretanto, sofreu várias alterações.
É citada em vários romances do Eça. Escolhi este texto de “A Correspondência de Fradique Mendes”, onde o narrador vai encontrar-se pela primeira vez com o célebre Fradique:
[…] E, se eu desejava conhecer um homem genial, que esperasse ao outro dia, Domingo, às duas, depois da missa do Loreto, à porta da Casa Havaneza. — Valeu? Às duas, religiosamente, depois da missa! Bateu-me o coração. Por fim, com um esforço, como Novalis no patamar de Hegel, afiancei, pagando os sorvetes, que ao outro dia, às duas, religiosamente, mas sem missa, estaria no portal da Havaneza! […]  

Livraria Bertrand (Rua Garret, 73-75)
Este estabelecimento existe desde 1732, aqui localizado desde 1773. 
Na novela Alves & C,’, Godofredo avista à porta desta livraria, Alexandre Herculano: […] Um momento parou, a olhar com respeito um grande homem, um grande poeta, um grande historiador, que nesse momento, de velho casaco de lustrina e chapéu de palha, conversava à porta da Bertrand, com o seu enorme lenço de ramagens preparado para se assoar […]. Godofredo admirava-lhe os romances e o estilo. 
Igualmente n’ Os Maias esta livraria personaliza a narrativa geográfica quando no final do romance Carlos da Maia e João de Ega se deslocam a pé do Hotel Bragança, pelo Chiado, em direcção ao Rossio e à Avenida da Liberdade para verem as obras do seu prolongamento para norte da cidade: Foram descendo o Chiado. Do outro lado, os toldos das lojas estendiam no chão uma sombra forte e dentada. [...] Depois, diante da Livraria Bertrand, Ega, rindo, tocou no braço de Carlos: — Olha quem ali está, à porta da Baltresqui! Era o Dâmaso [...]  (p. 697).

Rua de S.Marçal
Perpendicular à Rua da Escola Politécnica, passa à ilharga do Instituto Britânico, que foi morada do célebre Alves dos Reis. Aqui residiam os Condes de Gouvarinho, d’Os Maias, ela amante de Carlos da Maia, ele par do reino e homem de Estado. A Gouvarinho, num tom amargo, queixava-se que, já por duas vezes, Carlos faltara ao rendez-vous em casa da Titi, sem lhe ter sequer escrito uma palavra; ela vira nisto uma ofensa, uma brutalidade; e vinha agora intimidá-lo, em nome de todos os sacrifícios que por ele fizera, a que aparecesse na Rua de S. Marçal, Domingo ao meio-dia, para terem uma explicação definitiva antes de ela partir para Sintra (p. 421).

lgreja dos Mártires (Rua Garrett)
Esta igreja do século XVIII, tida na sua raiz como a primeira igreja católica da cidade, foi totalmente arrasada com o terramoto de 1755. Aqui foi baptizado Camilo Castelo Branco, a 14 de Abril de 1825, e tal como no caso de Eça de Queiroz, com a omissão do nome da mãe. Esta igreja está ligada também ao poema de Fernando Pessoa "O sino da minha aldeia", que foi identificado pelo poeta como o da Igreja dos Mártires, muito perto da casa do Largo de São Carlos onde ele nasceu, do outro lado da Rua Serpa Pinto. Essa igreja foi palco de um episódio d’O Primo Basílio, quando Luísa corre a refugiar-se nela, durante o passeio célebre, a pé, que enceta com o Conselheiro Acácio, iniciado acima do Jardim de S. Pedro d’Alcântara, na embocadura da Rua da Rosa, passa pelo Chiado e termina no Rossio. Com hora marcada para se encontrar com o primo Basílio no «Paraíso» e acompanhada pelo empecilho tenaz do Conselheiro que não a larga, Luísa entrou na igreja desesperada. Ficou de pé debaixo do coro, calculando: "Demoro-me aqui, ele cansa-se de esperar e vai-se!" Por cima, reluziam vagamente os pigmentos de cristal dos lustres. Havia uma luz velada, igual, um pouco fosca. E as arquitecturas caiadas, a madeira muito lavada do soalho, as balaustradas laterais de pedra davam uma tonalidade clara e alvadia, onde destacavam os dourados da capela, os frontais roxos do púlpito, ao fundo dos reposteiros de um roxo mais escuro, e sob o dossel cor de violeta os ouros do trono.

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