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domingo, 24 de julho de 2011

A Leste do Paraíso

A RTP2 passou, já nas primeiras horas de hoje, o filme “A Leste do Paraíso”, de Elia Kazan, inspirado no livro, com o mesmo título, de John Steinbeck. É um filme de 1955, considerado um clássico e ganhou, parece, mais que um Óscar. O desempenho de James Dean, no papel de Cal Trask, é colossal. John Steinbeck, que era um escritor místico, aproveitou para nos apresentar uma releitura da história bíblica de Caim (Cal Trask) e de Abel (Aaron Trask).

O filme é feito apenas, como não podia deixar de ser, de uma linha principal, explorando os lados mais ajustados ao registo cinematográfico. Diferenças principais ou aspectos que me surpreendem: a proximidade entre Cal e Abra (namorada do irmão), o que não acontece no livro; imaginei que a Kate (a mãe dos dois irmãos que os abandona ainda muito pequenos), fosse mais bonita; o papel quase apagado do Lee, o “China”;

O final do filme é apresentado de forma bastante diferente, na medida em que Abra toma o papel do Lee. No filme, é Abra que incentiva Adam (o patriarca da família), num último esforço, antes de morrer, a perdoar o filho Cal, a dar-lhe, finalmente, uma palavra de amor, uma atitude que não fosse, como habitualmente, de total desdém, em flagrante contraste com o tratamento dado ao outro filho Aaron.

No livro, o Adam diz apenas a palavra Timshel, antes de fechar os olhos e adormecer para sempre. Contudo, esta palavra é, para Cal, redentora, e basta. Trata-se de uma palavra hebraica, que significa “Tu Podes”. Em termos filosóficos, é talvez, segundo a tese do autor do livro, a palavra mais importante do Mundo. Significa que o caminho está aberto. A responsabilidade incumbe ao homem, pois, se “tu podes”, também é verdade que “tu não podes”. “Tu podes” é algo que engrandece o homem e o eleva ao tamanho dos deuses, porque, apesar de todos os seus erros, é ele (o Homem) ainda quem dispõe da escolha. Pode escolher o caminho, lutar para o percorrer, e vencer. O realizador do filme opta por um final mais ligeiro, retirando, em minha opinião, esta carga filosófica. Assim, Adam, incentivado por Abra, acaba por, finalmente, e por uma única vez na vida, pedir um favor ao filho, que este acata.

Por último, tenho de referir uma cena muito forte, aquela em que o Cal, sempre desprezado pelo pai, quer,  como último recurso, comprar o seu amor. Então, e aproveitando o dia de aniversário do pai, preparou um festa e deu-lhe, de presente, um elevado montante em dinheiro, como forma de o compensar do elevado prejuízo resultante do negócio das alfaces e, no fundo, tentar conquistar o seu amor. O pai reagiu mal e, mais uma vez, arrasou o Cal, na presença do outro filho, que, em contrapartida, foi elogiado. O Cal fica de rastos, destroçado,  levando-o à revolta e, desta vez, à vingança (levou o irmão a conhecer a mãe que era uma prostituta).

Bem, estamos, definitivamente, perante um bom livro e um bom filme, o que raramente acontece…

terça-feira, 19 de julho de 2011

Memorial do Convento

Era uma vez um rei, D. João V, Rei de Portugal, rico e poderoso. Preocupado com a falta de descendentes, promete levantar um convento em Mafra, se tiver filhos da rainha;

Era uma vez Baltasar Sete-Sóis, maneta, chega a Lisboa como pedinte. Conhece Blimunda, ajuda na construção da passarola e morre num auto-de-fé;

Era uma vez Blimunda Sete-Luas, com capacidades de vidente, vê entranhas e vontades nas pessoas, ajuda na construção da passarola, partilha a sua vida com Baltasar;

Era uma vez um padre, Padre Bartolomeu de Gusmão, evita, durante algum tempo, a Inquisição devido à amizade com o Rei. Com a ajuda de Baltasar e de Blimunda, constrói a passarola. Perseguido, de novo, pela Inquisição, foge para Castela, vindo a morrer em Toledo;

Era uma vez um povo, O Povo de Portugal, construiu o convento em Mafra, à custa de muitos sacrifícios e até mesmo algumas mortes;

Era uma vez um livro, Memorial do Convento, que eu acabo de revisitar e que, se Deus quiser (quer o José Saramago queira ou não), ainda hei-de voltar a ler. Há livros assim…

domingo, 17 de julho de 2011

Os livros que eu li

Como anunciado, acabei ler, já há uns dias, o Dom Casmurro, do Machado de Assis.

O livro foi publicado em 1900 e é um dos romance mais conhecidos de Machado de Assis. Narra em primeira pessoa a história de Bentinho que, por circunstâncias várias, se vai fechando em si mesmo e passa a ser conhecido como Dom Casmurro. A história é a seguinte: Órfão de pai, criado com desvelo pela mãe (D. Glória), protegido do mundo pelo círculo doméstico e familiar (tia Justina, tio Cosme, José Dias), Bentinho é destinado à vida sacerdotal, em cumprimento de uma antiga promessa de sua mãe.

A vida do seminário, no entanto, não o atrai. Como tal, inicia o namoro com Capitu, filha dos vizinhos. Apesar de comprometida pela promessa, também D. Glória sofre com a ideia de separar-se do filho único. Por expediente de José Dias, Bentinho abandona o seminário e, em seu lugar, ordena-se um escravo.

Correm os anos e com eles o amor de Bentinho e Capitu. Entre o namoro e o casamento, Bentinho forma-se em Direito e estreita a sua amizade com um ex-colega de seminário, Escobar, que casa com Sancha, amiga de Capitu.

Do casamento de Bentinho e Capitu nasceu Ezequiel. Escobar morre e, durante seu enterro, Bentinho julga estranha a forma pela qual Capitu contempla o cadáver. A partir daí, os ciúmes vão aumentando e precipita-se a crise. À medida que cresce, Ezequiel torna-se cada vez mais parecido com Escobar. Bentinho, muito ciumento, chega a planear o assassinato da esposa e do filho, seguido de suicídio, mas não tem coragem. A tragédia dilui-se na separação do casal.

Capitu viaja com o filho para a Europa, onde morre anos depois. Ezequiel, já adolescente, volta ao Brasil para visitar o pai, que apenas constata a semelhança entre ele e o antigo colega de seminário. Ezequiel volta a viajar e morre no estrangeiro. Bentinho, cada vez mais fechado nas suas dúvidas, passa a ser chamado de casmurro pelos amigos e vizinhos e põe-se a escrever a sua vida (o romance).

Até meio do romance, sucedem-se os estratagemas de Bentinho para não seguir a vida eclesiástica. Eu estava curioso para ver a fórmula final que o autor ia encontrar para fechar este enredo. Por instantes, pensei no António da “Manhã Submersa”, do Vergílio Ferreira. Não, o Machado de Assis não foi por aí. Com pena minha…