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sábado, 26 de março de 2022

Devaneios cruzadísticos │ Mário de Carvalho


"ÁGUA EM PENA DE PATO" é o título de uma obra do escritor português Mário de Carvalho (1944), pedido com a resolução do passatempo de palavras cruzadas, referente ao mês de Março de 2022.

Nesta obra, com o sub-títtulo "Teatro do Quotidiano", o autor quis escrever uma peça que fosse o «reflexo» do Portugal pós-revolucionário. Nela traça as desventuras de uma geração que, passado o entusiasmo da Revolução, constata com amargura a distância que separa as esperanças por ela suscitadas da realidade.


Participaram: Aleme; António Amaro; Antoques; Arjacasa; Bábita Marçal; Baby; Caba; Candy; Corsário; Crispim; Donanfer II, El-Danny; Elvira Silva; Fernando Semana; Filomena Alves; Fumega; Gilda Marques; Homotaganus; Horácio; Jani; João Carlos Rodrigues; Joaquim Pombo; José Bento; José Bernardo; Juse; Mafirevi; Magno; Manuel Amaro; Manuel Carrancha; Maria de Lourdes; My Lord; Neveiva; Olidino; O. K.; PAR DE PARES; Reduto Pindorama (Agagê, Joquimas e Samuca); Ricardo Campos; Rui Gazela; Russo; Salete Saraiva; Seven; Socrispim; Somar; Virgílio Atalaya e Zabeli.

A todos, obrigado.
Até ao próximo.

sexta-feira, 11 de março de 2022

Lembrando Manuel da Fonseca

Em 11 de Março de 1993, faleceu Manuel da Fonseca,camarada de Partido e de luta.Manuel da Fonseca é uma figura marcante da cultura portuguesa e a sua obra literária,ficarão como marcos maiores da nossa literatura.Um intelectual,ligado ao povo alentejano,retrata.o ,na sua vida ,como nenhum outro: O Alentejo do latifúndio explorador e amigo do regime fascista,do trabalho de sol-a-sol,do desemprego e das jornas de miséria,da repressão brutal,das prisões e assassinatos.A sua opção pelo comunismo foi fortemente influenciada pelo seu convívio com outros intelectuais comunistas como Soeiro Pereira Gomes e Alves Redol.

Manuel da Fonseca fez parte dos célebres passeios no Tejo,organizados por Redol e Dias Lourenço ,passeios que tinham como objectivo actividades políticas, de reunião para iludir a vigilância da PIDE.

Em 1964,Manuel da Fonseca era presidente da Sociedade Portuguesa de Escritores e ousou atribuir o Grande Prémio da Novelística a Luandino Vieira,militante do MPLA,na altura preso no Tarrafal,atrevimento que deu origem ao encerramento da Sociedade e vários membros da direcção foram presos ,entre eles,Manuel da Fonseca.

Um escritor,que esteve sempre com o Partido Comunista Português e o seu exemplo de firmeza ideológica uma referência para todos os militantes comunistas.

Obras como Cerro Maior,Anjo do Trapézio ,Tempo de Solidão,O Fogo e as Cinzas ,Rosa dos Ventos ,Seara de Vento e livros de poemas,além de outros,são obras referenciais do acervo de Manuel da Fonseca .


ANTES QUE SEJA TARDE

Amigo
tu que choras uma angústia qualquer
e falas de coisas mansas como o luar
e paradas
como as águas de um lago adormecido,
acorda!

Deixa de vez
as margens do regato solitário
onde te miras
como se fosse a tua namorada.

Abandona o jardim sem flores
desse país inventado
onde tu és o único habitante.

Deixa os desejos sem rumo
de barco ao deus-dará
e esse ar de renúncia
às coisas do mundo.

Acorda,amigo,
liberta-te dessa paz podre de milagre
que existe
apenas na tua imaginação.

Abre os olhos e olha
abre os braços e luta!
Amigo,antes da morte vir
nasce de vez para a vida.

Manuel da Fonseca

quarta-feira, 9 de março de 2022

Em tempos de guerra



O Menino da sua mãe
No plaino abandonado
Que a morna brisa aquece,
De balas trespassado
- Duas, de lado a lado -,
Jaz morto, e arrefece.
Raia-lhe a farda o sangue.
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos.
Tão jovem! que jovem era!
(Agora que idade tem?)
Filho único, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
«O menino de sua mãe»
Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve.
Dera-lhe a mão. Está inteira
E boa a cigarreira.
Ele é que já não serve.
De outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço... deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.
Lá longe, em casa, há a prece:
«Que volte cedo, e bem!»
(Malhas que o Império tece!)
Jaz morto, e apodrece,
O menino da sua mãe.

Fernando Pessoa, Maio de 1926, in Poesia 1918-1930, Ed. Assírio & Alvim

Quadro " O Menino da sua mãe" │ Almada Negreiros │ Pórtico
da entrada da Faculdade de Letras de Lisboa

quarta-feira, 2 de março de 2022

Mário de Carvalho revisitado

Parece-me oportuno, no mês em que o AlegriaBreve homenageia o escritor Mário de Carvalho, dedicando-lhe o passatempo de Palavras-Cruzadas, revisitar o que eu achei do seu romance "Um Deus passeando pela brisa da tarde", quando o li em Outubro de 2017.

«Início desconfiado, final surpreso. Estou a falar do romance “Um deus passeando pela brisa da tarde”, de Mário de Carvalho.

Embora o autor declare (com ironia?) que não se trata de um romance histórico, a verdade é que a narrativa está carregada de História. Arriscaria dizer que fictício só o nome da cidade onde tudo acontece. De facto, Tarcísis nunca existiu, embora o autor nos deixe leves pistas para podermos imaginar a sua localização (pp . 23 e 249).

A acção desenrola-se algures na região da Lusitânia, no sul da Hispânia, no sec. II d.c., no tempo em que era imperador Marco Aurélio (161-180).

Todavia, o tempo da escrita é posterior, quando Cómodo (180-192) já imperava em Roma. O romance é contado na primeira pessoa pelo protagonista, Lúcio Valério Quíncio, que foi magistrado justamente em Tarcisis.

Lúcio Valério é romano, bom homem, agnóstico, exerce o cargo de magistrado (juridico e executivo) com elevado sentido de responsabilidade. Todavia, diverge do costume por se descurar na religiosidade e no gosto pelos artifícios de entretenimento da Roma Antiga. 

A sua principal atenção centra-se nas necessidades da cidade, preocupado, sobretudo, com as notícias de uma invasão bárbara iminente. Tal eventualidade obriga-o a tomar drásticas medidas e, com isso, entra em conflito com os seus concidadãos e membros da Cúria.

Entre mais ameaças encontra-se a “seita do peixe”, que não só põem em risco a romanidade em si, mas também o discernimento de Lúcio Valério, que, contra a sua vontade, fica irremediavelmente preso a Iunia Cantaber, membro destacado da dita “seita” .

Lúcio entra em conflito com os seus concidadãos e, pouco a pouco, todos o vão abandonando, até que, por imposição da Cúria, se afasta temporariamente da cidade. Até Aulo Mânlio, seu principal colaborador, se deixa seduzir pelo populismo de um tal Rufo Cardílio. Et tu, Aulo? 

Mais tarde, regressa à sua villa, e é então que resolve escrever sobre os acontecimentos que ocorreram em Tarcisis, durante a sua magistratura, não recusando, como ele diz no final do primeiro capítulo, “a intercessão de certo deus que, nos primórdios, ao que parece, passeava num jardim pela brisa da tarde…”

A narrativa vale pela riqueza de pormenores acerca da vida quotidiana e da organização estrutural (política e social) de uma cidade romana. Os hábitos e os ideais, os códigos de conduta morais e as clivagens sociais são parte principal do romance. 

É uma história sobre o poder e aquilo de que ele depende, e, nisso, trata-se de uma obra intemporal. Decorre nos tempos romanos, mas poderia igualmente decorrer nos dias de hoje.

A linguagem é cuidada e altiva, sem ser arrogante. É uma viagem à língua portuguesa com inúmeros vocábulos da época. E, todavia, este não é um livro difícil de ler.

Sem aprofundar, um apontamento breve sobre o perfil psicológico das principais personagens da narrativa:

Lúcio é o personagem-narrador, já se disse. O retrato é ele que o faz nas primeiras linhas do livro. Senhor da terra, romano, culto, que marca os tempos com o seu porte, o seus gestos, as suas maneiras. Dignidade. Gravidade. Romanidade. Humanidade. Perdeu para os oportunistas, para os populistas, seus concidadãos, para os que não olham a meios para subir na vida. Resignou ao duunvirato por ter contra si os notáveis e o povo.

Mara é a mulher do magistrado Lúcio. Apresenta-se como uma grande mulher, pois apesar de saber da paixão do marido, nunca “abandonou o barco”, estando sempre lá para o ajudar. É a consciência do marido. Mara estava sempre à altura das situações.

Calpúrnio é o velho senador, representa o status quo, manhoso e intriguista.

Rufo Cardílio é um demagogo puro. O taberneiro que ambiciona ascender à liderança da cidade. Filho de um liberto, não lhe falta vontade para vencer a qualquer custo. E consegue. Ascendeu ao duunvirato, justamente ao lugar deixado por Lúcio! Para tanto ofereceu uma avultada fortuna à cidade e apressou-se a ordenar jogos em que a principal atracção foi o esquartejamento de Arsena (um salteador) por mastins da Caledónia. Justamente o que o povo mais gosta: circo!

Iunia Canturber é cristã, figura mais destacada da “seita do peixe”. A única pessoa perante quem Lúcio perde a compostura, numa paixão que tenta negar ao máximo, mas que lhe está na cara. A partir do meio do livro, comecei a anotar os adjectivos que Lúcio, o narrador e protagonista, utiliza para a descrever: decidida, seca, teimosa, inesperada, impertinente, provocatória, firme. O último adjectivo do livro é CORAJOSA. Contrariamente aos seus companheiros, foi a única que não renegou a sua fé. Enfrentou a condenação à morte sem vacilar.

Por último, a explicacão da minha surpresa pelo final do livro. É visível no livro a falta de liberdade da prática religiosa ocorrida na época. Nada de espantar, conhecendo nós o que foi a história dos primeiros mártires cristãos até ao ano de 325 d.c.. Nesta linha, não estava à espera que todos os cristãos que viviam na cidade de Tarcisis, à excepção de Iunia, apostatassem a sua fé. Confesso que fiquei surpreendido.

Que sinal o autor nos quis deixar? Penso que sei, mas são contas que não vale a pena aqui levantar. É um pormenor que não oblitera os méritos do livro. Vale a pena conhecer».

terça-feira, 1 de março de 2022

Devaneios cruzadísticos │ Mário de Carvalho

O escritor Mário de Carvalho nasceu em Lisboa em 1944. Licenciou-se em Direito e viu o serviço militar interrompido pela prisão.

Desde muito cedo ligado aos meios da resistência contra o Estado Novo, foi condenado a dois anos de prisão, tendo de se exilar depois de ter cumprido a maior parte da pena. Depois da Revolução do 25 de Abril, onde se envolveu intensamente, exerceu advocacia em Lisboa.

O seu primeiro livro, "Contos da Sétima Esfera", causou surpresa pelo inesperado da abordagem ficcional e pela peculiar atmosfera, entre o maravilhoso e o fantástico.

A sua escrita é extremamente versátil e é impossível incluí-lo em qualquer escola ou corrente literária. Desde a crónica irónica do quotidiano à toada mais sombria, tem praticado uma grande diversidade de géneros, percorrendo várias épocas, e ecoando alguns grandes clássicos da literatura portuguesa e universal. 

Nas diversas modalidades de Romance, Conto e Teatro, foram atribuídos a Mário de Carvalho os prémios literários portugueses mais prestigiados (designadamente os Grandes Prémios de Romance, Conto e Teatro da APE, o prémio do Pen Clube e o prémio internacional Pégaso). Os seus livros encontram-se traduzidos em várias línguas.

Neste mês, convido os meus amigos a solucionar este passatempo de palavras-cruzadas e, a final, encontrar o título de uma obra (5 palavras todas na horizontal) do escritor português Mário de Carvalho (1944).


HORIZONTAIS: 1 – Secas; Segura. 2 – Embriaguez [Brasil]; Engodar. 3 – Cintura; Causa; Uno. 4 – Na moda [coloquial]; Cómoda; Preposição que designa tempo. 5 – Ligas; Inquieta. 6 – Engano; Dinheiro [Moçambique]. 7 – Equipe; Mágoa. 8 – Preposição que designa origem; Embaraço; Símbolo de crómio. 9 – Gulosa [Guiné-Bissau]; Sujeita; Causar. 10 – Remendo ou tomba no calçado; Ingénuo [popular]. 11 – Agasalho [figurado]; Libertino.

VERTICAIS: 1 – Provável; Honra. 2 – Fim; Simpatias [figurado]. 3 – Simples; Contudo; Somai. 4 – Lava áspera e escoriácea constituída por fragmentos irregulares; Pessoa notável [figurado]; O [arcaico]. 5 – Gume; Fugido [Angola]. 6 – Acaso; Fileira. 7 – Alcançam [arcaico]; Entre nós. 8 – Motivo [figurado]; Esconda; Interjeição que exprime o ruído da queda de um corpo. 9 – Em partes iguais; Levante; Espírito [figurado]. 10 – Corroa; Estreia. 11 – Perfume; Pancada

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Aceito respostas até dia 25 de Março, inclusive, por mensagem particular no Facebook ou para o meu endereço electrónico, boavida.joaquim@gmail.com. Em data posterior, apresentarei a solução, assim como os nomes dos participantes. 

Vemo-nos por aqui?