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segunda-feira, 26 de maio de 2025

Devaneios cruzadísticos │ José Saramago (revisitado)

"Todos os nomes" é o título de uma obra do escritor português José Saramago, pedido com a resolução do passatempo de Palavras Cruzadas, referente ao mês de Maio de 2025.


Arjacasa│Valpaços

Recebi respostas de: Alabi; Aleme; António Amaro; Antoques; Arjacasa; Bábita Marçal; Caba; Candy; El-Danny; Elvira Silva; Filomena Alves; Fumega; Gilda Marques; Homotaganus; Horácio; Jani; João Carlos Rodrigues; Joaquim Pombo; José Bento; José Bernardo; Juse; Mafirevi; Magno; Manuel Amaro; Maria de Lourdes; My Lord; Neveiva; Odemi; Olidino; PAR DE PARES; Paulo Freixinho; Reduto Pindorama (Agagê, Joquimas e Samuca); Ricardo Campos; Rui Gazela; Russo; Seven; Socrispim; Somar; TRIO SUL-MINAS (Crispim, Loanco e O. K.), Virgílio Atalaya e Zabeli.

Obrigado a todos. Até breve!

sábado, 24 de maio de 2025

As mães


Retrato de mulheres portuguesas trajando de luto, séc. XX, Museu de Arte Popular, Lisboa.


De Eugénio de Andrade este tocante naco de poesia em prosa impregnado de ternura pelo eterno feminino o poema

AS MÃES



Aqui, na voz do próprio poeta

Quando voltar ao Alentejo as cigarras já terão morrido. Passaram o verão todo a transformar a luz em canto — não sei de destino mais glorioso. Quem lá encontraremos, pela certa, são aquelas mulheres envolvidas na sombra dos seus lutos, como se a terra lhes tivesse morrido e para todo o sempre se quedassem órfãs. Não as veremos apenas em Barrancos ou em Castro Laboreiro, elas estão em toda a parte onde nasça o sol: em Cória ou Catania, em Mistras ou Santa Clara del Cobre, em Varchats ou Beni Mellal, porque elas são as Mães. O olhar esperto ou sonolento, o corpo feito um espeto ou mal podendo com as carnes, elas são as Mães. A tua; a minha, se não tivera morrido tão cedo, sem tempo para que o rosto viesse a ser lavrado pelo vento. Provavelmente estão aí desde a primeira estrela. E como duram! Feitas de urze ressequida, parecem imortais. Se o não forem, são pelo menos incorruptíveis, como se participassem da natureza do fogo. Com mãos friáveis teceram a rede dos nossos sonhos, alimentaram-nos com a luz coada pela obscuridade dos seus lenços. Às vezes encostam-se à cal dos muros a ver passar os dias, roendo uma côdea ou fazendo uns carapins para o último dos netos, as entranhas abertas nas palavras que vão trocando entre si; outras vezes caminham por quelhas e quelhas de pedra solta, batem a um postigo, pedem lume, umas pedrinhas de sal, agradecem pela alma de quem lá têm, voltam ao calor animal da casa, aquecem um migalho de café, regam as sardinheiras, depois de varrerem o terreiro. Elas são as Mães, essas mulheres que Goethe pensa estarem fora do tempo e do espaço, anteriores ao Céu e ao Inferno, assim velhas, assim terrosas, os olhos perdidos e vazios, ou vivos como brasas assopradas. Solitárias ou inumeráveis, aí as tens na tua frente, graves, caladas, quase solenes na sua imobilidade, esquecidas de que foram o primeiro orvalho do homem, a primeira luz. Mas também as podes ver seguindo por lentas veredas de sombra, as pernas pouco ajudando a vontade, atrás de uma ou duas cabras, com restos de garbo na cabeça levantada, apesar das tetas mirradas. Como encontrarão descanso nos caminhos do mundo? Não há ninguém que as não tenha visto com umas contas nas mãos engelhadas rezando pelos seus defuntos, rogando pragas a uma vizinha que plantou à roda do curral mais três pés de couve do que ela, regressando da fonte amaldiçoando os anos que já não podem com o cântaro, ou debaixo de uma oliveira roubando alguma azeitona para retalhar. E cheiram a migas de alho, a ranço, a aguardente, mas também a poejos colhidos nas represas, a manjerico quando é pelo S. João. E aos domingos lavam a cara, e mudam de roupa, e vão buscar à arca um lenço de seda preta, que também põem nos enterros. E vede como, ao abrir, a arca cheira a alfazema! Algumas ainda cuidam das sécias que levam aos cemitérios ou vendem pelas bermas, juntamente com um punhado de maçãs amadurecidas no aroma dos fenos. E conheço uma que passa as horas vigiando as traquinices de um garoto que tem na testa uma estrelinha de cabrito montês — e que só ela vê, só ela vê.

Elas são as Mães, ignorantes da morte mas certas da sua ressurreição.

17.8.85

Poema de Eugénio de Andrade, in "Vertentes do Olhar"

É já ali

Ao pé da minha casa, existe um parque onde as pessoas aproveitam para passear os cães, fazer exercício físico ou, tão só, espairecer. Ao início, há 20 anos, eu dava várias voltas ao parque sempre a correr. Depois, alternava corrida com marcha. Depois, só marcha, em passo acelerado. Hoje, só marcha, em passo lento. Como será amanhã?

Hoje, tinha terminado o meu passeio, quando se aproximou de mim um rapaz de raça negra. E veio uma pergunta:

- Senhor, onde é a Junta de Freguesia de Massamá?

ao que que eu respondi:

- É já ali.

Na verdade, é mesmo ali, a 200 metros.

Aquele "é já ali" fez-me pensar, ao regresso a casa. Há 50 anos houve um diálogo semelhante, só os protagonistas estavam em campos opostos. Aconteceu no sul de Angola, em plena guerra colonial. Naquelas operações mais delicadas, levávamos connosco um guia, um nativo da terra, melhor conhecedor do terreno. 

E aconteceu algumas vezes, eu perguntar ao guia:

- Amigo, ainda falta muito (para alcançar  o objectivo)?

Ao que ele respondia:

- É já ai.

Bem, não era verdade. Afinal, o objectivo estava ainda longe, era preciso caminhar ainda muito para lá chegar. No fundo, havia uma percepção diferente das distâncias. Note-se que estávamos na Província então denominada Cuando-Cubango, conhecida por Terras do Fim do Mundo. Tinha uma superfície 2 vezes superior à de Portugal. Um pormenor que explica tudo.

terça-feira, 13 de maio de 2025

A cor verde está na moda


«Aquele verde, com franqueza, não é o "verde que te quero verde", não é o verde do Lorca, não lança "um barco sobre o mar", nem um cavalo à brida na montanha.Nem é a "verdura bela" da cor de limão sobre a qual Camões estendeu os olhos de seu coração.
Não basta guardares num saquinho escondido no bolso um pó verde desmaiado para que ele se transforme na tinta verde com que Octavio Paz fez o seu poema ambiental. No poema de Paz, "a tinta verde cria jardins, selvas, prados/ folhas onde cantam as letras,/ palavras que são árvores,/ frases que são verdes constelações".
O vosso verde não é um verde lima. É verde limo, viscoso, peganhoso.
Não se lança um verde, seja qual for o tom, à cara de um homem que nos aperta a mão. Não há desculpa, nem a dos verdes anos. Não há clemência, seja o verde oliva ou esmeralda, turquesa ou marciano. Seja o verde verdinho.
O grande poeta Manoel de Barros viu que a tarde estava verde "no olho das garças". Drummond gostava de se deitar "à sombra doce das moças em flor" que era "uma sombra verde, macia, vã". Não assim o verde que levas escondido, num plástico manhoso, o verde que te preparas para lançar à cara de um homem que te aperta a mão.
Não acaba bem o poema a que Leminski chamou "Verdura". Começa assim: "De repente,/ me lembro do verde,/ a cor verde/ a mais verde que existe/ a cor mais alegre/ a cor mais triste/ o verde que vestes/ o verde que vestiste/ no dia em que te vi/ no dia em que me viste". Se te deres à maçada de o ler, verás que não acaba bem.
Como não acabou bem o verde que a tua mão tornou eléctrico.
Diz-se que a cor verde alivia o stress. Mas não um verde assim, manhoso, embrulhado em plástico, leveza fóssil de bolso. O vosso é um verde papel da parede à qual bem podeis limpar as mãos.» 

Fernando Alves, "Aquele verde", in "Os Dias que Correm", 12 Mai. 2025

Fernando Alves refere-se ao episódio em que dois jovens, activistas do movimento Fim ao Fóssil, lançaram pó verde sobre a cara e o casaco do presidente do partido Iniciativa Liberal, Rui Rocha.

quinta-feira, 8 de maio de 2025

Habemus Papam!

O cardeal Robert Prevost assume o papado com o nome Papa Leão XIV, tornando-se o 267º sucessor de Pedro!

«O cardeal Robert Francis Prevost, prefeito do Dicastério para os Bispos, foi hoje eleito como Papa, assumindo o nome de Leão XIV.
O primeiro pontífice norte-americano, de 69 anos de idade, foi missionário e arcebispo no Peru, tendo ainda sido superior geral da Ordem de Santo Agostinho.
São Gregório III, da Síria, que liderou a Igreja Católica entre 731 e 741, tinha sido o último Papa não-europeu, antes da eleição de Francisco, a 13 de março de 2013.
O novo Papa nasceu a 14 de setembro de 1955 em Chicago (EUA); em 1977 entrou no noviciado da Ordem de Santo Agostinho (O.S.A.), na província de Nossa Senhora do Bom Conselho, e emitiu os votos solenes a 29 de agosto de 1981.
Aos 27 anos, foi enviado pela Ordem a Roma para estudar Direito Canónico na Pontifícia Universidade de São Tomás de Aquino (Angelicum), sendo ordenado sacerdote a 19 de junho de 1982.
Obteve a licenciatura em 1984 e foi enviado para trabalhar na missão de Chulucanas, Piura, Peru (1985-1986); em 1988 foi enviado à missão de Trujillo como diretor do projeto de formação comum para os aspirantes agostinianos dos Vicariatos de Chulucanas, Iquitos e Apurímac.
Enquanto religioso foi prior de comunidade (1988-1992), diretor de formação (1988-1998) e professor de professos (1992-1998); na Arquidiocese de Trujillo foi vigário judicial (1989-1998), professor de Direito Canónico, Patrística e Moral no Seminário Maior “São Carlos e São Marcelo”.
Em 1999, foi eleito prior provincial da Província Mãe do Bom Conselho (Chicago) e, dois anos e meio depois, o capítulo geral ordinário escolhe-o como responsável mundial da Ordem de Santo Agostinho, que exerceu durante 12 anos.
O Papa Francisco nomeou-o administrador apostólico da Diocese de Chiclayo (Peru) a 3 de novembro de 2014, elevando-o à dignidade episcopal de bispo titular da Diocese de Sufar.
A 7 de novembro, tomou posse canónica da diocese na presença do Núncio Apostólico e foi ordenado bispo a 12 de dezembro de 2014, festa de Nossa Senhora de Guadalupe, na Catedral da sua diocese.
Francisco nomeou-o membro da Congregação para o Clero em 2019 e membro da Congregação para os Bispos em 2020, ano em que foi designado administrador apostólico da Diocese de Callao.
No Vaticano, foi prefeito do Dicastério para os Bispos, desde 30 de janeiro de 2023, e presidente da Comissão Pontifícia para a América Latina.
O Papa Francisco criou-o cardeal no Consistório de 30 de setembro de 2023, sendo considerado um colaborador próximo do seu antecessor, tendo sido um dos responsável pela gestão do Caminho Sinodal Alemão.
Na Assembleia Sinodal de 2024, o agora Papa disse aos jornalistas que os trabalhos propõem uma “nova forma de fazer as coisas na Igreja”, que exige tempo.
“Não devemos esperar soluções instantâneas”, referiu o colaborador do Papa, destacando a passagem de temas tidos como polémicos para os grupos de trabalhos criados por Francisco, em fevereiro do último ano.
Estes dez grupos de estudo abordam temas propostos pela primeira sessão sinodal, em outubro de 2023, envolvendo dicastérios da Cúria Romana, sob a coordenação da Secretaria-Geral do Sínodo, até junho de 2025.
Leão XIV sublinhou que os trabalhos da sessão sinodal apontavam a necessidade de mudar o paradigma de uma “estrutura de poder”, com mais organismos de consulta, nas dioceses e paróquias.
Em cima da mesa, acrescentou, está o processo de escolha de bispos e o papel dos núncios, representantes diplomáticos da Santa Sé em todo o mundo.
“O processo de busca de candidatos pode ser mais sinodal, mais aberto, incluindo uma maior participação de bispos, padres, religiosas, leigos e leigas”, assinalou o então prefeito do Dicastério para os Bispos.
O novo Papa assumia que a missão episcopal deve levar cada bispo ao encontro das “necessidades específicas” de cada realidade, reforçando a “presença pastoral e social da Igreja”, onde quer que as pessoas sofram, e a proteção da natureza.
O cardeal Prevost foi questionado sobre o papel dos leigos, nestes processos de nomeação episcopal, indicando que “já foram dados alguns passos significativos”, com indicações para “incluir mais leigos e religiosas” nas consultas e com maior presença de mulheres no Dicastério para os Bispos.
Admitindo diferenças de “pontos de vista”, mais do que de divisões, na assembleia sinodal, o novo pontífice referiu, a respeito da participação das mulheres, que as categorias dentro da Igreja “precisam de ser diferentes”, pelo que a sua ordenação sacerdotal poderia “criar um problema” em vez de o resolver.
Para Leão XIV, o debate deve visar um “novo entendimento da liderança, poder e autoridade”, como serviço, na Igreja.
O último pontífice a escolher o nome Leão foi Leão XIII, Papa entre 1868 e 1903, que se destacou pela sua defesa da Doutrina Social da Igreja.»

Agência Ecclesia



segunda-feira, 5 de maio de 2025

Dia Mundial da Língua Portuguesa

No Dia Mundial da Língua Portuguesa, este excerto do texto «A Voz do Mar», da autoria de Vergílio Ferreira e por ele lido em 1991, na cerimónia em que lhe foi atribuído o Prémio Europália (Bruxelas)

“[…Uma língua é o lugar donde se vê o Mundo e em que se traçam os limites do nosso pensar e sentir. Da minha língua vê-se o mar. Da minha língua ouve-se o seu rumor, como da de outros se ouvirá o da floresta ou o silêncio do deserto. Por isso a voz do mar foi a da nossa inquietação…]

quinta-feira, 1 de maio de 2025

Devaneios cruzadísticos │ José Saramago (revisitado)

Neste mês, convido os meus amigos a solucionar este passatempo de Palavras-Cruzadas e, no final, encontrar o título (3 palavras nas horizontais) de uma obra do escritor português José Saramago (1922-2010).

Arjacasa Valpaços

HORIZONTAIS:  1 – Abaixai; Espécie de canoa escavada num tronco de árvore.  2 – Empas da vinha. 
3 – Balido de ovelha; Completos; A parte mais larga dos membros dianteiros das reses. 4 – Passará; Desamparados; Prefixo que significa através de. 5 – Interjeição que exprime impaciência; Elemento de formação de palavras que exprime a ideia de escuro. 6 – Emparceira. 7 – Estimar; Vinculo. 8 – Dente queixal  [regionalismo, plural];   Geme;   Berne.   9 –   Aqueles;   Cena pungente [figurado];   Aquelas. 
10 – Mude de rumo [navio]. 11 – Faça calar [figurado]; Famas.


VERTICAIS:   1 – Omitia;  Esconde.   2 – Falhamos.   3 – Além;  Depósitos [figurado];  Entre nós. 
4 – Elemento de formação de palavras que exprime a ideia de arte; Elemento de formação pospositivo, de origem latina, que ocorre sobretudo em verbos de sentido frequentativo…; Símbolo de decâmetro
5 – Íntimos; Primeiro tempo de um compasso [Música]. 6 – Admirarias. 7 – Continuados; Assentimento. 8 – Entusiasmo [figurado]; Aflição; Mestre. 9 – Pessoa notável na sua especialidade [figurado]; Exigiu; Preposição que designa tempo. 10 – Afecção devida a uma avitaminose…[Medicina]. 11 – Recebe [figurado]; Conforto.

Clique Aqui para abrir e imprimir o PDF com o passatempo.

O problema não segue, ainda, o novo Acordo Ortográfico


Aceito respostas até dia 25 de Maio, inclusive, por mensagem particular no Facebook ou para o meu endereço electrónico, boavida.joaquim@gmail.com. Em data posterior, apresentarei a solução, assim como os nomes dos participantes.