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quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

O saco de figos

«...O salão era excessivamente grande para mim, os cães ladravam para o agouro das trevas, eu estava só no mundo. De longe, da minha infância perdida, veio a ternura da memória, a face cansada de minha mãe, a luz suave de tudo para nunca mais. E uma saudade densa caiu-me, como um peso, na alma. E chorei longamente, um choro recolhido, só choro para mim. Chorei quanto pude, até que a noite foi minha irmã e eu fui irmão da noite, um diante do outro, calados e de mãos dados. Então lembrei-me, por entre o pranto, de um pequeno saco de figos que minha mãe me dera à despedida. Procurei-o na saca da roupa, puxei-o para a cama. E o sabor deles, que me encheu a alma, trouxe-me a presença de um carinho morto, como se minha mãe ali me estivesse velando e houvesse ainda aldeia à minha volta...»


Vergílio Ferreira, in Manhã Submersa (pág. 30)

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