Visitei, hoje, a exposição FERNANDO PESSOA, PLURAL COMO O UNIVERSO, que ontem foi inaugurada na Fundação Calouste Gulbenkian. Dedicada a Fernando Pessoa e aos seus heterónimos, esta exposição pretende mostrar a multiplicidade da obra do poeta. Esta exposição reúne poemas, textos, documentos, fotografias e pintura.
Gostei de ver a primeira edição do livro Mensagem, com uma dedicatória escrita pelo poeta.
Gostei de ver uma folha de papel branco, que pertence ao espólio do poeta na Biblioteca Nacional de Portugal (BNP), onde Fernando Pessoa escreveu a frase: “ Sê plural como o universo!” Foi a partir desse manuscrito que nasceu o título FERNANDO PESSOA, PLURAL COMO O UNIVERSO, que, segundo os criadores, remete para a multiplicidade que conhecemos em Pessoa.
Gostei de ver os muitos poemas que nos são mostrados e que, de imediato, nos vêm à memória. “Nunca conheci quem tivesse levado porrada / Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo (…)”.
Gostei de ver uma instalação (à entrada e pendurado no tecto) feita com a mesa, a cadeira, a chávena de café, o chapéu de Pessoa, em projecção de vários elementos do famoso quadro de Almada Negreiros, Fernando Pessoa lendo Orpheu.
Gostei de ver, na sala seguinte, o quadro original, que pertence à colecção da Fundação Gulbenkian. Como se sabe, em 1964, por encomenda da Fundação Calouste Gulbenkian, Almada Negreiros realizou uma réplica do Retrato de Fernando Pessoa executado em 1954 para o restaurante Irmãos Unidos, estabelecimento de que era sócio Alfredo Pedro Guisado, colaborador da Orpheu.
Gostei de ver as muitas cartas lá expostas, os últimos poemas escritos por Fernando Pessoa e pelos heterónimos Ricardo Reis e Álvaro de Campos, o primeiro dos jornais fictícios de Pessoa, O Palrador, com notícias reais e fictícias, do caderno mais antigo de Pessoa (datado de 1901), onde ele registou algumas notas do liceu de Durban.
Não gostei de ver escrito num painel “cotidiano”, “ortônimo” e “desassocego”. As grafias das duas primeiras entendem-se, sabendo que a exposição foi criada originalmente para o Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, no Brasil; a terceira parece querer reproduzir a grafia antiga que Fernando Pessoa utilizou num escrito em 1913. Não obstante, face à discussão que por aí vai a propósito do Novo Acordo Ortográfico, era de evitar mais esta confusão. Confesso que fiquei desassossegado.
Gostei de ver a célebre arca. Está lá um segurança, ninguém pode mexer, claro. Mas garanto a quem me lê (se há quem o faça) que a arca está mesmo vazia.
Sem comentários:
Enviar um comentário