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sábado, 14 de abril de 2012

"O senhorito do Monte da Ribeira da Orca"


Eugénio de Andrade fez da mãe a presença central da sua poesia, de onde o pai está quase ausente, esse pai a quem em entrevistas apenas se refere como "o senhorito do Monte da Ribeira da Orca". Ora, Orca é justamente a terra onde eu nasci. Por isso, sinto-me, para sempre, em falta em relação ao poeta que muito admiro.  É sabido que o seu nascimento foi fruto de um amor juvenil e que o casamento, celebrado mais tarde, durou muito pouco tempo. 
Há um único poema em que o poeta se refere, necessariamente de forma crítica, ao pai. É assim em

Harmónio
Como ladrão ou mulher
pública: vens de noite.
Trazes o harmónio
a masculina
música roubada às fontes.
Não te esperava;só uma vez
te esperei tremendo de amor:
eu era tão pequeno
que não me viste.
Nem uma palavra ousas;
só os olhos suplicam que te roube
à morte,que devolva ao sol
a modesta desordem dos teus dias.
Que escute ao menos a pobre
e rouca e desamparada
música do teu pequeno harmónio.

Eugénio de Andrade

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