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segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Fernando Pessoa, o cicerone


Este livro do Fernando Pessoa surpreende. Chama-se “Lisboa - o que o turista deve ver”. Só foi descoberto em 1988, por entre os papéis inéditos de Pessoa. Trata-se de um texto em inglês, completo, dactilografado –coisa rara no Espólio! – descobrindo-se então ser um guia pronto para publicação.

Trata-se de um guia de Lisboa, a sua amada cidade, a que Pessoa chamava o seu “lar”. Escrito em inglês, como se disse, em estilo propositadamente turístico, despojado de retórica, onde se percorre todo o património importante da cidade, seja ele arquitectónico, intelectual ou de puro lazer. 

O texto, provavelmente datado de 1925, inseria-se num amplo projecto de publicações a editar por Pessoa para dignificar Portugal, que ele considerava “descategorizado”, face à civilização europeia e, neste caso, a dignificar a capital – Lisboa. O livro foi publicado em bilingue, sendo a sua 1ª edição do ano de 1992.

Tem prefácio de Teresa Rita Lopes, uma conhecida estudiosa do universo pessoano, que curiosamente confessa que, confrontada com o texto, a sua primeira preocupação foi saber se era mesmo obra do Pessoa. 

É evidente, diz ela, que o facto de estar no Espólio só por si não chega para o atribuirmos a Pessoa. Há por aí, neste campo, tantas falsidades, que é de desconfiar e estudar bem. Diz ela ainda, “nos quase trinta anos da minha vida que tenho dedicado às incursões na selva pessoana, tenho aprendido a conhecer esse terreno minado e armadilhado”. 

E conclui, dizendo “no caso deste guia, não tenho qualquer hesitação em atribuí-lo a Pessoa”.

É bom saber que assim é, pois, lendo este guia, e conhecendo-se a restante obra do poeta, a primeira reacção é, realmente, de espanto, tal a simplicidade do texto. 

De todo o modo, não podemos perder de vista que se trata de um texto em inglês, para turista ler, e que, como o próprio Pessoa escreveu, este texto, assim como as restantes obras por ele sonhadas neste campo (mais um sonho do poeta!) não se destinavam a literatos, mas ao grande público: estariam “connected with commerce, literature and art”.

Vale a pena dar uma volta por Lisboa, guiados pelo olhar cicerone de Pessoa!

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