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segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

A poesia é que nos salva

Ontem, fui ao Teatro Aberto ver a peça "Amor e Informação", de Caryl Churchill. As personagens não têm nome; são antes uma série de vozes inominadas numa série de encontros que gravìtam em torno de uma preocupação central. 

A proposta é, justamente, serem os espectadores a tirarem as suas próprias conclusões sobre o significado das eventuais conexões e desconexões entre os diversos contextos.

Como num caleidoscópio ou num zapping de imagens, surgem mais de 100 personagens em mais de 50 peças curtas, criados por uma encenação frenética. Uma proposta teatral invulgar que investiga sempre de novos pontos de vista os múltiplos aspectos da nossa infinita necessidade de amor e de conhecimento.

Numa das peças finais, é criada uma situação que pretende recriar um vulgar concurso televisivo, onde são feitas perguntas aos concorrentes.

Nesta peça, com o título "Sábio", há um concorrente que responde acertadamente a tudo o que o lhe é perguntado. Num ritmo alucinante, sem nunca balbuciar. Até uma fórmula matemática complicadíssima, ele responde se engasgar um segundo sequer.

Até que lhe é atirada a seguinte pergunta: "Em que dia se deu a Batalha de Alfarrobeira"?". 

Não gritei, mas as pessoas à minha volta ouviram: Maio. É verdade, uma resposta incompleta, mas foi no mês de Maio.  Disso, eu não tinha a mínima dúvida. 

Lembrei-me do poema de António Gedeão, «Era Maio, e havia flores vermelhas e amarelas / nos campos de Alfarrobeira». A poesia é que nos salva.

Para que conste, a Batalha da Alfarrobeira foi no dia 20 de Maio de 1449. «Lá em baixo, na margem do ribeiro / estendido sobre a relva / jaz o infante. / Do seu coração ergue-se a haste de um virote / erecta como um junco, / e já nenhuma voz o acordará.».

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