A minha Lista de blogues

sábado, 28 de maio de 2016

O amor do teu nome


[…] Vou ouvir em paz o amor do teu nome. É um concerto para oboé e orquestra KV3 14 (285 d), é um concerto para Mónica, que giro. Primeiro o oboé entra muito tímido, encolhido e em bicos de pés, na grande massa orquestral. Depois a orquestra põe-se a olhar para ele - donde veio este miúdo? e ele faz umas tantas piruetas. Hei-de falar-te do Penedo, do Firmino, daquela fulana de seios em prateleira, agora deixa-me ouvir. O oboé deve estar a fazer o flic-flac e a roda e a orquestra espantada a ver. Querida. Quanto tu eras mais poderosa quando parecias mais frágil. A força do efémero. Da graça leve. Do que se esgueira do combate mas lhe corta os abastecimentos. A força de uma criança está na imensidão do seu possível sem nada ainda a possibilitá-lo — e então a orquestra deixa o oboé brilhar e ele entusiasma-se. Depois a orquestra entra no jogo. Como te amo. Entra no jogo numa espécie de desafio. E abafa-o, sufoca-o, outras vezes retira-se encantada a ouvi-lo. E liberto em si com um espaço largo para a sua liberdade, que garoto traquinas. A orquestra afasta-se mais e o oboé sozinho longamente, como ele brinca, dança, vejo-te, vejo-te. No espaço da Sé, no ginásio e eu grito-te Mónica, Mónica. Passa um vento, vou com ele na tua órbita. Mónica. Como te quero. […] 

Vergílio Ferreira, in Em Nome da Terra

Sem comentários:

Enviar um comentário