Em 20 de Novembro de 1910, há pouco mais de 100 anos, morreu o escritor russo Leon Tolstoi, autor de "Anna Karenina" e "Guerra e Paz", os seus romances mais conhecidos.
Um dos seus últimos escritos foi "A Morte de Ivan Ilitch", de 1986, num período em que o autor escreveu sobretudo ensaios em que reflecte profundamente sobre a condição humana e condena as sociedades modernas baseadas na procura do supérfluo.
Revisitei, nestes últimos dias, "A Morte de Ivan Ilitch", um livro que me provoca sempre um grande desconforto, porque confrontado com realidades que nos custa admitir.
Estamos perante um livro tão breve (90 páginas!) e, todavia, uma das maiores obras-primas que nos fala do espírito humano, na opinião de muitos críticos.
Há, na verdade, parece um quase paradoxo entre o tamanho do livro e a profundidade das questões tratadas. Um livro que bem pode servir de exemplo a muitos escritores, mesmo daqueles que têm sucesso comercial. É a prova definitiva como um livro pequeno pode ser um grande livro, enquanto que um livro grande pode ser um pequeno livro.
Para mim, há uma certa continuidade entre este livro e o anterior que (re)li, aqui comentado, o "Em Nome da Terra", de Vergílio Ferreira. Em ambos, nos é apresentada uma reflexão profunda sobre o tema da morte e o sentido da vida.
António Lobo Antunes, num prefácio que escreveu para uma edição deste "A Morte de Ivan Ilitch", refere uma controvérsia que existe entre os críticos literários: "trata-se de uma obra sobre a morte ou de uma obra que nega a morte?" António Lobo Antunes desvaloriza a polémica, preferindo dizer que se trata de uma obra sobre o tema da morte e sobre o sentido da vida. Para mim, remataria com uma frase que me ficou de "Em Nome da Terra". Diz Vergílio Ferreira, "a importância da morte está na vida".
"A Morte de Ivan Ilitch" é um permanente (pelo menos em muitas páginas) um espelho. Lemos e dizemos para nós: Lá está, é mesmo assim!
Alguns comentários de amigos de Ilitch, ao saberem da sua morte, são terrivelmente elucidativos:
«[...ao saberem da morte de Ivan Ilitch, pensaram antes de mais nada na influência que tal acontecimento poderia ter na sua própria promoção e na dos seus amigos.]» - p. 8.
«[...provocou, como sempre, em todos quantos souberam da ocorrência, um sentimento de alegria: não fui eu, foi ele quem morreu. ]» - p. 9
«[...não há nenhum motivo para se supor que este incidente nos possa impedir de passarmos esta noite tão divertidos como de costume.]» - p. 12
«[...como se a morte fosse uma coisa que só podia suceder a Ivan Ilitch, e que não dizia de modo algum respeito a ele...]» - p. 16
Como escreveu António Lobo Antunes, no prefácio a que nos vimos reportando, este livro é um retrato implacável da nossa condição humana. É um livro que faz pensar, que faz doer!
Excelente livro que só li recentemente.
ResponderEliminarGostei muito da análise, é como dizes "faz doer".
Obrigada.
Apraz-me saber que apreciaste. Obrigado.
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