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quarta-feira, 15 de setembro de 2021

Guerra Junqueiro, poeta mal amado?



GUERRA JUNQUEIRO (Freixo de Espada à Cinta, 15 de Setembro de 1850 — Lisboa, 7 de Julho de 1923) — Sobre as reacções dos seus contemporâneos às suas obras, escreve A.M. Pires Cabral:

“Se Guerra Junqueiro é um poeta mal-amado por muitos, os livros “A velhice do Padre Eterno” e “Pátria” são a fonte principal de todos os ressentimentos. Principalmente o primeiro. Compreende-se porquê: se a ideia dinástica ia aos poucos cedendo terreno ao mesmo passo que ganhava popularidade a ideia republicana, apregoada a cada canto e esquina por uma hoste de apologistas aguerridos, a Igreja — acusando embora danos provocados pelo abalroamento do racionalismo — permanecia uma instituição solidamente arreigada na alma portuguesa. Bulir com ela era bulir com o sentimento religioso de grande parte do povo português, justamente aquela parte que costuma dizer “Graças a Deus muitas, graças com Deus poucas”. É mais ou menos pacífico que Junqueiro não graceja verdadeiramente com Deus, com a ideia pura de Deus, não filtrada pelas humanas formulações do catecismo; mas graceja, e muito, e em termos muitas vezes difíceis de aceitar, com os vigários de Deus, desde o mais humilde cura de aldeia aos cardeais, aos núncios apostólicos e ao próprio Papa. (Mais tarde, em “Horas de luta”, chamará a Roma “necrópole maldita, dragão do mal, sepulcro enorme”.) Os gracejos da “Velhice” nem sempre mantêm a compostura; melhor dizendo, quase nunca mantêm. É evidente que Junqueiro considerava que o clero não era um espelho de virtudes ou, para usar um plebeísmo, “estava a pedi-las“. E que o dogma é uma violência à razão. Mas as generalizações são sempre abusivas. Há no livro escusada violência verbal, por vezes insolência crassa e de gosto duvidoso — de que é exemplo acabado “A sesta do senhor abade”. Joaquim Ferreira chama-lhe “a chacota mais ultrajante do catolicismo”. (“Homens e livros”).”

in “Guerra Junqueiro — Poeta dual”

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