Do meu amigo e conterrâneo Joaquim Candeias da Silva, partilho este excelente texto, no ano em que se comemora o centenário do nascimento do poeta EUGÉNIO DE ANDRADE, a propósito da data do nascimento do poeta que muito amamos. Parabéns, meu poeta!
«O CENTENÁRIO DO POETA (1923-2023). - FOI MESMO A 19 DE JANEIRO QUE ELE NASCEU? - OFICIALMENTE, NÃO.
Enche páginas de jornais por estes dias. E muito justamente. Ele foi, sem dúvida, um dos maiores poetas da contemporaneidade. É um dos meus favoritos, até porque o conheci pessoalmente: falámos algumas vezes (inclusivamente sobre a sua Póvoa, vizinha da minha Orca, só não gostava que lhe tocasse no pai…); telefonámo-nos e escrevemo-nos; trocámos livros. Ah, e também conheço os lugares da sua meninice, que ficam muito perto dos meus (Ribeiro da Orca, Couto, Poço Castelhano, Corricão, Barbado...).
Pois, vem agora a propósito a data de nascimento. Conforme já em tempos aqui dei conta, segundo reza o seu registo civil (nunca desmentido oficialmente pela mãe), com base numa declaração apresentada a 1 de Março de 1923 por ela, Maria dos Anjos, então solteira, doméstica, domiciliada na Póvoa, filha de Guilherme Fontinhas e de Maria Joana, foi às vinte horas do dia UM de FEVEREIRO DE 1923 que nasceu JOSÉ FONTINHAS numa casa da Rua das Quintas (hoje Poeta Eugénio de Andrade, o pseudónimo literário por ele adoptado).
[VER ANEXO. E já agora, sabem qual o significado do vocábulo EUGÉNIO e a razão pela qual o Poeta o escolheu? Provavelmente não... Então registem: tal como ANDRADE (de Andrós = homem), é de origem grega (Eu = bem + Genos = nascido). Pois…
Contudo, é importante que se diga que nem sempre as narrativas coincidem... Não revelam os ditos registos o nome do pai, embora na aldeia toda a gente soubesse quem era e o próprio se tenha assumido como tal. Tratava-se de Alexandre Rato, filho de António Dias Rato (1865-1963) e de Teresa de Jesus Felícia (1874-1956). Mais tarde, os pais do Poeta até chegaram a casar. Porém, por questões de foro estritamente pessoal, este rasurou-o da sua biografia e da sua obra, e apenas episodicamente se lhe referiu como «o senhorito do Monte do Ribeiro da Orca»...
Ora, estariam certos os referidos dia e hora declarados pela mãe? Embora eles coincidam rigorosamente com o que vem mencionado no registo de baptismo, ocorrido na igreja paroquial da Póvoa a 2 de Março seguinte, a verdade é que toda a bibliografia, sustentada no dizer do Poeta, aponta o dia 19 de Janeiro, dia de S. Sebastião. E até acredito que fosse verdade. Tal discrepância de datas, que por aqueles tempos ocorria com certa frequência, era um estratagema comum para escapar à multa do registo tardio, já que aos emolumentos e ao imposto de selo do "civil" ninguém podia eximir-se.
E, já agora, vem ao caso o que se passou com Albano (Dias) Martins, outro poeta, que até era primo direito de “Eugénio”. De acordo com o registo de nascimento n.º 874 da Repartição do Registo Civil do Fundão, este também nasceu na Póvoa de Atalaia, «às doze horas do dia 6 de Agosto de 1930», numa casa da Rua da Devesa, sendo filho de Francisco Dias Rato, natural da Póvoa, e de Maria do Carmo Gonçalves Martins, natural da mesma freguesia, «onde estão domiciliados», neto paterno de António Dias Rato e de Teresa Felícia Rato, e materno de Abílio Martins e de Maria José Gonçalves. Foram testemunhas António Domingues, agricultor, e António Fontinhas, pedreiro, ambos solteiros e residentes na Póvoa de Atalaia, que assinaram a declaração.
Mas… mas… também aqui a narrativa histórica "mudou": Albano sempre disse que nasceu noutro lado e em dia diferente: na Q.ta do Olho de Boi da freguesia do Telhado, a 24 de Julho! E aqui está como a História oficial pode ser bem diferente da que acaba por prevalecer…
Mas, hoje, esqueçamos isso. PARABÉNS, MEU POETA»
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