Não, ainda não há fumo branco. Só acontece que, ontem, deitei-me perto das 3h da manhã, porque estive a ver na RTP 1 o filme “Habemus Papam”, do realizador italiano Nanni Moretti. Não o vi quando passou há tempos pelas salas de cinema, mas trazia-o debaixo de olho. Até parece que o filme é premonitório numa altura em que já se encontram no Vaticano os 115 cardeais eleitores que escolherão o sucessor de Bento XVI, porque este, para espanto do mundo, justamente resignou.
Trata-se de uma comédia dramática, que incide precisamente num conclave ficcionado. Depois da morte do Papa, os cardeais de todo o mundo reúnem-se em clausura, na Capela Sistina, e elegem o futuro sumo pontífice (Michel Piccoli). Enquanto isso, na Praça de S. Pedro, milhares de pessoas aguardam ansiosamente pelo pastor. Porém, esmagado pelo peso da responsabilidade, o herdeiro da cadeira de S Pedro entra em pânico, recusando-se a aparecer em público. Depois de tudo tentarem os seus conselheiros decidem chamar um dos mais reconhecidos psicanalistas do país (Nanni Moretti) para o ajudar a ultrapassar a crise. Mas nada parece surtir efeito. E, depois de três dias com o mundo suspenso, vagueando solitariamente pelas ruas de Roma, ele tem de encontrar a coragem necessária para tomar uma decisão. Finalmente, ele aparece à varanda da Praça de São Pedro, não para saudar os fiéis, como todos tão ansiosamente esperavam, mas para dizer que não aceita, por não sentir capaz de desempenhar o cargo para que foi escolhido!
Como eu te compreendo. Eu sei que não é politicamente correcto compreender a posição daquele que diz não ser capaz, de ficar em pânico com a perspectiva de exercer o poder, de ficar esmagado pelo peso da responsabilidade do cargo para que foi escolhido. Neste mundo ferozmente competitivo, admirados são aqueles que sobem na vida, aqueles que aceitam, à primeira, o alto cargo que lhes cai no regaço.
Eu não penso assim. Passando da ficção à realidade, como eu te compreendo bem, bom Papa Bento XVI!
Sem comentários:
Enviar um comentário