Almeida Garrett nasceu na cidade do Porto no dia 4 de Fevereiro de 1799. Passam, hoje, 214 anos! Faleceu em 1854. Viveu só 55 anos, e todavia viveu intensamente os grandes acontecimentos do tempo: Invasões Francesas, Revolta Liberal, 1ª Constituição de 1822, Vila Francada (1823), Restabelecimento da Monarquia Absoluta com D. Miguel (1828), Guerra Civil (1832-1834), Tratado de Paz, Setembrismo, Ditadura de Costa Cabral, Maria da Fonte e Patuleia, Regeneração. Em todas elas, Almeida Garrett está presente.
Almeida Garrett foi um romântico, aliás considerado um dos introdutores do romantismo em Portugal. Romantismo é o contrário de classicismo. Aqui é a ordem, o modelo, a escola. Em oposição, no Romantismo não há regra, toda a força vem de dentro. Duas linguagens diferentes.
Almeida Garrett nasceu no Porto. A sua casa tem lá uma lápide evocativa. Família da classe média. O pai era selador-mor na Alfandega. João Baptista Silva Leitão era o seu nome verdadeiro. Mas ele era tão grande, que tinha direito a ser vaidoso! A seguir ao desastre da ponte das barcas, aquando da 2ª Invasão francesa, Almeida Garrett foge para os Açores com a família, em 1811. O seu tio era o Frei Alexandre da Sagrada. Era bispo de Angra. Aos 15 anos, andava no seminário, fez um sermão que empolgou a assembleia. Não foi padre porque cedo se enamorou de uma menina inglesa.
Mais tarde, foi para Coimbra. Ele fez as proclamações relativas às tentativas de revolta de 1816 e 1817, aquando da morte de Gomes Freire de Andrade. Está em Coimbra em 1821. Aqui escreveu “Catão”, que é a história do pai da Revolução Liberal, Manuel Fernandes Tomás. Casou com Luisa Midosi de 15 anos. O casamento que não deu certo. Garrett foi depois para França e Inglaterra. Aqui, inicia a evolução literária. Sofre a influência de Walter Scott. Ele e Alexandre Herculano evoluíram para o romantismo. Almeida Garrett escreve “Camões” e “Dona Branca”, com os quais, dizem, se marca o início do romantismo, a expressão livre do pensamento.
Almeida Garrett foi soldado do Batalhão Académico. Esteve na defesa do Porto. É parte na Guerra Civil (1832-34), uma guerra fratricida e sangrenta que dilacerou o país. Almeida Garrett esteve do lado dos que venceram. E, ainda, esteve com os Setembristas.
No Parlamento foi um grande orador. Tinha o cuidado de preparar a intervenção, ao contrário de José Estevão, que falava de improviso. Eram os grandes rivais na oratória. Almeida Garrett era muito vaidoso. Careca, usava uma cabeleira. Apertava a barriga com uma cintura até fazer doer! E punha almofadinhas nas barrigas das pernas para parecer um homem musculado! Porém, sempre do lado do povo. Triunfa com Passos Manuel, de quem era amigo. Está fortemente ligado à criação do Teatro Nacional e do Conservatório. Desempenha um papel importantíssimo no Teatro (Gil Vicente, Alfageme de Santarém, Frei Luís de Sousa).
Escreve um livro fantástico, “Viagens na Minha Terra”, uma viagem que acaba em Santarém. E assim terminou este livro. “Tenho visto alguma coisa do mundo, e apontado alguma coisa do que vi. De todas quantas viagens porém fiz, as que mais me interessaram sempre foram as viagens na minha terra”. O jovem Portugal é representado por ele na personagem do Carlos que vai a Santarém para matar o frade (o Portugal velho), mas acaba por não o fazer, porque se tratava do pai.
Almeida Garrett era um homem apaixonado. No final de vida, com cerca de 50 anos, apaixonou-se por Rosa Montufar Infante (a Viscondessa da Luz). É então que escreve “Folhas caídas”, poemas espantosos, o último lampejo da sua vida. Edita o livro, ocultando o nome. Conta-se que, um dia, Alexandre Herculano, ao passar pela Bertrand , pega no livro, lê e relê e diz baixinho: “Isto não pode ser se não do Garrett. Aquele diabo não sabe o que há-de fazer de tanto talento” E tinha!...
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