Miguel Torga morreu no dia 17 de Janeiro de 1995. Há 18 anos, portanto. “Longo foi o caminho e desmedidos os sonhos que nele tive”, diz o poeta no último poema que escreveu para o Diário, no dia 10 de Dezembro de 1993.
Requiem por mim
Aproxima-se o fim.
E tenho pena de acabar assim,
Em vez de natureza consumada,
Ruína humana.
Inválido do corpo
E tolhido da alma.
Morto em todos os órgãos e sentidos.
Longo foi o caminho e desmedidos
Os sonhos que nele tive.
Mas ninguém vive
Contra as leis do destino.
E o destino não quis
Que eu me cumprisse como porfiei,
E caísse de pé, num desafio.
Rio feliz a ir de encontro ao mar
Desaguar,
E, em largo oceano, eternizar
O seu esplendor torrencial de rio.
Miguel Torga, Coimbra, 10 de Dezembro de 1993, in DiárioXVI
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