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quinta-feira, 16 de maio de 2013

A minha trisavó Rosa Joaquina Gonçalves

Há dias, o meu querido amigo e meu conterrâneo, o Prof. Joaquim Candeias, chamou-me a atenção para uma curiosidade: a prevalência, na nossa família (e, de certa forma, na nossa aldeia), do nome próprio feminino ROSA. E mais soube, agora, que tenho uma trisavó que se chamava ROSA, Rosa Joaquina Gonçalves. 

Gostaria de deixar aqui uma singela homenagem a todas as mulheres da minha terra natal, a Orca, de hoje e de ontem, de nome ROSA, especialmente à minha “recém-apresentada”, trisavó Rosa Joaquina Gonçalves. 

Para o efeito, roubei este poema ao poeta António Gedeão, cuja mãe se chamava Rosa, a Rosinha. O poeta António Gedeão, com o seu cunho matemático, vai restringindo o número de mulheres até chegar à mais importante: a sua Mãe! É um hino às nossas mães, mas, também, neste caso, às nossas avós, bisavós, trisavós…que tinham um lindo nome: Rosa! 


MÃEZINHA

A terra de meu pai era pequena
e os transportes difíceis.
Não havia comboios, nem automóveis, nem aviões, nem mísseis.
Corria branda a noite e a vida era serena.

Segundo informação, concreta e exacta,
dos boletins oficiais,
viviam lá na terra, a essa data,
3023 mulheres, das quais
45 por cento eram de tenra idade,
chamando tenra idade
à que vai desde o berço até a puberdade.
28 por cento das restantes
eram senhoras, daquelas senhoras que só havia dantes.
Umas, viúvas, que nunca mais (oh! nunca mais!) tinham sequer sorrido
desde o dia da morte do extremoso marido;
outras, senhoras casadas, mães de filhos...
(De resto, as senhoras casadas,
pelas suas próprias condições,
não têm que ser consideradas
nestas considerações.)

Das outras, 10 por cento,
eram meninas casadoiras, seriíssimas, discretas,
mas que, por temperamento,
ou por outras razões mais ou menos secretas,
não se inclinavam para o casamento.

Além destas meninas
havia, salvo erro, 32,
que à meiga luz das horas vespertinas
se punham a bordar por detrás das cortinas
espreitando, de revés, quem passava nas ruas.

Dessas havia 9 que moravam
em prédios baixos como então havia,
um aqui, outro além, mas que todos ficavam
no troço habitual que meu pai percorria,
tranquilamente, no maior sossego,
às horas em que entrava e saía do emprego.

Dessas 9 excelentes raparigas
uma fugiu com o criado da lavoura;
5 morreram novas, de bexigas;
outra, que veio a ser grande senhora,
teve as suas fraquezas mas casou-se
e foi condessa por real mercê;
outra suicidou-se
não se sabe porquê.

A que sobeja
chama-se Rosinha.
Foi essa que meu pai levou à igreja.
Foi a minha mãezinha.

António Gedeão

3 comentários:

  1. Interessante poema que eu desconhecia. Mistura a poesia com a matemática, ou não fosse o António Gedeão versado em ambas as coisa.

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  2. Zé Luís, é bem verdade o que dizes. A poesia de António Gedeão é sempre uma beleza, um conforto para a alma e para a mente.

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  3. Dizer, ainda, que, recentemente, li o livro "Rómulo de Carvalho/António Gedeão", escrito por Cristina Carvalho, filha do poeta. Deu para eu ficar a conhecer o homem, o professor, o pedagogo, o cientista, enfim, uma multiplicidade de facetas deste poeta que eu já muito admirava. Para além de pequenas curiosidades...

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