«[…] A criança, com
duas longas lágrimas na face magrinha, murmurou:
— Oh mãe! Jesus ama
todos os pequenos. E eu ainda tão pequeno, e com um mal tão pesado, e que tanto
queria sarar!
E a mãe, em soluços:
— Oh meu filho, como
te posso deixar? Longas são as estradas da Galileia, e curta a piedade dos
homens. Tão rota, tão trôpega, tão triste, até os cães me ladrariam da porta
dos casais. Ninguém atenderia o meu recado, e me apontaria a morada do doce
rabi. Oh filho! Talvez Jesus morresse... Nem mesmo os ricos e os fortes o
encontram. O Céu o trouxe, o Céu o levou. E com ele para sempre morreu a
esperança dos tristes.
De entre os negros
trapos, erguendo as suas pobres mãozinhas que tremiam, a criança murmurou:
— Mãe, eu queria Ver
Jesus...
E logo, abrindo
devagar a porta e sorrindo, Jesus disse à criança:
— Aqui estou.»
Eça de Queiroz, “O Suave Milagre” (excerto), in Contos
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