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quarta-feira, 15 de abril de 2015

"O Meu Irmão" não merecia...


Já li "O Meu Irmão", de Afonso Reis Cabral, há algum tempo e estive a pensar antes de vir aqui falar sobre o livro. Estou ainda aqui a indeciso sobre se é, ou não, um bom livro.  O livro foi uma surpresa, que chega, de forma brutal, no final. Um autêntico soco no estômago.

Perante a descrição da sinopse que li, eu esperava um livro sobre a Trissomia 21, um livro que me falasse das limitações e das dificuldades do irmão com esta condição, assim como da vida familiar, das adaptações forçadas, do sofrimento, e, por experiência própria, da eventual desestruturarão da família.

Afinal, enganei-me rotundamente. O narrador (um narrador participativo) dá-nos um retrato objectivo, muitas vezes até cruel e impiedoso. E tem duas partes distintas.  As primeiras 300 páginas um bocadinho difíceis de transpor, embora, aqui e ali, abanados com a forma brutal como o Professor trata o irmão Miguel. Mas, diga-se em abono da verdade, também com bons nacos de prosa. Para um primeiro livro, para um livro de formação, o prémio é merecido.  

As últimas 60 páginas são alucinantes, de violência, de suspense. Uma grande surpresa. Eu não vinha preparado para isto, como disse um ex-Primeiro Ministro ao sentir-se apertado numa entrevista na RTP1.

O Professor não aceita a relação do irmão Miguel com Luciana, também deficiente. E porquê? Não se percebe. Por motivo médico? Por ética? Por ciúme? Este parece o mais plausível. O Professor tenta, a todo o custo, separar o irmão Miguel da  Luciana, indo ao ponto de o tirar da Escola que ambos frequentavam. Não vai a bem, vai a mal.

Veio-me à cabeça o desfecho que o seu genial antepassado escolheu para final de "O Crime do Padre Amaro", mas, atenção, na 1ª Edição (1875). Como se sabe, este romance teve 3 edições (1875, 1876 e 1880), todas bem diferentes. 

Afinal, o autor não resistiu a inspirar-se no seu trisavô. 

Tanto num caso, como noutro, a solução passa pela eliminação física, com as próprias mãos, da pessoa que está a ser o empecilho à relação (Amaro/Amélia ou Professor/Miguel). Pode ser uma suposição ousada, mas não encontro outra.

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