O Infante D. Pedro é, para muitos historiadores, e não só, uma personalidade fulcral da história portuguesa. Personalidade extraordinária, mas mal tratada: caído em desgraça, a sua memória foi deliberadamente apagada ou distorcida. Só nos séculos XIX e XX a sua figura e actuação política foram reavaliadas e historicamente valorizadas, ainda que continue a ser, por vezes, “julgado à luz de sectarismos incompreensíveis”, que impossibilitam um julgamento justo.
Muito por acção dos poetas, aqui citamos Sophia e Pessoa, ele vem sendo colocado no lugar da História que merece.
Infelizmente, não recebeu só «insulto e morte», como diz Sophia, recebeu também esquecimento.
Pranto pelo Infante D. Pedro das Sete Partidas
Nunca choraremos bastante nem com
pranto
Assaz
amargo e forte
Aquele
que fundou glória e grandeza
E
recebeu em paga insulto e morte.
Sophia
de Mello Breyner, 17 /12/1961
Fernando pessoa retrata-o sob o signo da “claridade”: “Claro a pensar, e claro no sentir, / E claro no querer”, isto é, como homem determinado, sábio e lúcido. Pessoa invoca nestes versos a consolidação da ideia imperial de Portugal como momento sagrado de passagem para uma futura instauração do Quinto Império.
D. Pedro, Regente de Portugal
Claro em pensar, e claro no sentir,
E claro no querer;
Indiferente ao que há em conseguir
Que seja só obter;
Dúplice dono, sem me dividir,
De dever e de ser —
Não me podia a Sorte dar guarída
Por não ser eu dos seus.
Assim vivi, assim morri, a vida,
Calmo sob mudos céus,
Fiel à palavra dada e à ideia tida.
Tudo o mais é com Deus!
Fernando Pessoa, in “Mensagem”
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