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sexta-feira, 12 de abril de 2019

A delícia das coisas imperfeitas


Acabei de (re)ler "Perfeição", um Conto de Eça de Queirós. Um deslumbramento, um prazer imenso como sempre acontece ler um dos mestres da Língua portuguesa.    .

Eça, para escrever este conto, inspirou-se no Canto V da Odisseia, reescrevendo-a. Foi escrito em 1897, perto do final de vida, na fase a que se chama, na expressão feliz do Prof. Miguel Real, " O Último Eça". 

Após 8 anos, retido nos braços da Deusa Calipso, na Ilha de Ogígia, Ulisses quer voltar à sua Ítaca, quer rever a mortal Penélope, que o espera tecendo e destecendo a teia, ele quer estar com o doce Telémaco, o seu filhinho que deixou nos braços da ama quando partiu para Guerra de Tróia.

Ulisses, eternamente preso, sem amor, pelo amor de uma deusa, já não suporta a paz, a doçura daquele paraíso onde tudo é perfeito. Após longos 8 anos, Ulisses, o mais subtil dos humanos, só aspira ao macio repouso, vigiando os seus gados, concebendo sábias leia para os seus povos.

Por isso, um dia, ele fugiu da ilha da deusa Calipso, na jangada que ele próprio construiu. Partiu para os trabalhos, para as tormentas, para as misérias...para a delícia das coisas imperfeitas.

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