«Em Portalegre, cidade
Do Alto Alentejo, cercada
De serras, ventos, penhascos, oliveiras e sobreiros
Morei numa casa velha,
Velha, grande, tosca e bela
À qual quis como se fora
Feita para eu morar nela...»
(...)
Na Quarta-Feira passada, dia 25 de Maio, fui visitar, na companhia de mais 13 amigos, o Museu José Régio em Portalegre.
José Régio nasceu e morreu em Vila do Conde (1901-1969), mas viveu grande parte da sua vida em Portalegre, onde foi professor, quase 40 anos (1928 a 1967). Deixou uma obra multifacetada. Foi, para além de escritor, desenhador, pintor, um grande coleccionador de arte sacra e e popular.
Nesta cidade do Alto Alentejo, ele escreveu a maior parte dos seus livros e, nos momentos de lazer, vagueava pelos campos a adquirir antiguidades, tendo uma verdadeira paixão pelos crucifixos.
Nesta cidade do Alto Alentejo, ele escreveu a maior parte dos seus livros e, nos momentos de lazer, vagueava pelos campos a adquirir antiguidades, tendo uma verdadeira paixão pelos crucifixos.
A casa espanta-nos pelo número de crucifixos expostos (não os contei, mas são para cima de 400). Crucifixos de madeira, de metal, de barros, cristos toscos, elegantes, esquisitos, serenos, agonizantes, zangados por serem o Messias, descrentes na ressurreição. Há mesmo um de marfim branco com rubis a fazer as gotinhas de sangue. Em Régio, temos um cristianismo de lamento e não de alegria pela manhã da Páscoa da Ressurreição.
Cristo
Quando eu nasci, Senhor! já tu lá estavas,
Crucificado, lívido, esquecido.
Não respondeste, pois, ao meu gemido,
Que há muito tempo já que não falavas.
Redemoinhavam, longe, as turbas bravas,
Alevantando ao ar fumo e alarido.
E a tua benta Cruz de Deus vencido,
Quis eu erguê-la em minhas mãos escravas!
A turba veio então, seguiu-me os rastros;
E riu-se, e eu nem sequer fui açoitado,
E dos braços da Cruz fizeram mastros...
Senhor! eis-me vencido e tolerado:
Resta-me abrir os braços a teu lado,
E apodrecer contigo à luz dos astros!
Quando eu nasci, Senhor! já tu lá estavas,
Crucificado, lívido, esquecido.
Não respondeste, pois, ao meu gemido,
Que há muito tempo já que não falavas.
Redemoinhavam, longe, as turbas bravas,
Alevantando ao ar fumo e alarido.
E a tua benta Cruz de Deus vencido,
Quis eu erguê-la em minhas mãos escravas!
A turba veio então, seguiu-me os rastros;
E riu-se, e eu nem sequer fui açoitado,
E dos braços da Cruz fizeram mastros...
Senhor! eis-me vencido e tolerado:
Resta-me abrir os braços a teu lado,
E apodrecer contigo à luz dos astros!
Estamos perante um poeta angustiado na procura religiosa, numa insaciável busca de Deus. Olhemos para este poema, onde ele nos dá o conhecer o seu Cristo, crucificado, agonizante, esquecido, mas que ele quer abraçar.
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