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domingo, 15 de setembro de 2013

Já Bocage não sou...

Barbosa du Bocage nasceu em Setúbal, no dia 15 de Setembro de 1765. Há 248 anos, portanto! Poeta da emotividade, quase romântico. Um pré-romântico?  Deixou-nos a sua poesia em “Rimas” (Tomos I, II e III). Adorava a popularidade, mas acabou vítima da sua rebeldia. Andou pelo mundo. Esteve no Oriente (Goa). Desertou da Marinha, onde era oficial, e, mais tarde, volta a Portugal. Tem uma surpresa. A sua amada, Gertrudes, havia casado com o irmão. Boémio e mulherengo. Bocage é um animal à solta. Mas, boémia ou tertúlia? 

Entra para a Nova Arcádia, com o nome de Elmano Sadino. Porém, rapidamente se incompatibiliza com os seus confrades Acaba expulso. Em 1797, o intendente Pina Manique quer pôr ordem na cidade de Lisboa e, na onda, Bocage é encarcerado no Cadeia do Limoeiro. Ao fim de um ano, é internado no Real Hospício das Necessidades, dirigido pelos Padres Oratorianos. É tempo para acabar o Tomo II (talvez a melhor poesia), dedicado à amizade e aos amigos que o ajudaram a sair da cadeia.

De 1799 a 1801 trabalhou sobretudo com Frei José Mariano, um frade brasileiro, politicamente bem situado e nas boas graças de Pina Manique, que lhe deu muitos trabalhos para traduzir. Em 1804, é tempo de escrever o Tomo III, o menos conseguido talvez, numa altura em que estava já muito doente. Débil e acamado ditava para quem escrevia. Morreu de aneurisma, apenas com 40 anos. Vivia, desde 1801, em casa por ele arrendada no Bairro Alto, naquela que é hoje o n.º 25 da travessa André Valente, na companhia da irmã, em completa miséria. 

É deste tempo o poema de todas as contradições, o “ Já Bocage não sou!..." 

Já Bocage não sou!... À cova escura
Meu estro vai parar desfeito em vento...
Eu aos céus ultrajei! O meu tormento
Leve me torne sempre a terra dura.

Conheço agora já quão vã figura
Em prosa e verso fez meu louco intento.
Musa!... Tivera algum merecimento,
Se um raio da razão seguisse, pura!

Eu me arrependo; a língua quase fria
Brade em alto pregão à mocidade,
Que atrás do som fantástico corria:

Outro Aretino fui... A santidade
Manchei!... Oh! Se me creste, gente ímpia,
Rasga meus versos, crê na eternidade!

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