Acabo de lei “Mistérios de Lisboa” (Livro Primeiro), de Camilo Castelo Branco, livro que não estava nos meus planos ler, mas, num daqueles acasos que acontecem, chegou às minhas mãos. Foi o segundo romance escrito por Camilo Castelo Branco, em 1854. Como é sabido, Camilo foi imensamente influenciado por Almeida Garrett. Não me admira, por isso, que eu descubra aqui muitos pontos de contacto com “As Viagens na Minha Terra”, publicado uns anos antes, em 1848: o padre Dinis, a viagem a Santarém e o cenário da Guerra Civil entre Miguelistas e Liberais.
Narrativa é fácil de contar. São duas histórias que se fundem numa só. A história de Pedro (narrador da história na 1ª pessoa) só pode ser contada se não esquecermos a de Padre Dinis. Pedro é órfão de pai e mãe e é educado por um padre. A maior mágoa de Pedro é a sua condição de órfão e o facto de ser tão pobre. Mas Pedro não é órfão e muito menos pobre, é fruto de um amor proibido e motivo de uma grande tragédia. É filho de uma das maiores famílias Portuguesas. Foi gasto muito dinheiro para que ele morresse à nascença, mas foi gasto ainda mais para que ele vivesse. Viveu, conheceu a verdade, que o deixou ainda mais triste. Era órfão, deixou de ser e assistiu à morte da mãe e daqueles que mais amava.
E o padre Dinis? É alguém que trazia consigo a esperança e percorria o mundo a dar alento, paz e morte. Padre Dinis foi poeta, mendigo, missionário e conde, deu a vida sempre em favor dos outros.
É um romance que nos conta uma história em “que os pecadores podem ascender à virtude, e a virtude se conquista através de sofrimentos e lágrimas". Puro romantismo. Não admira, estamos perante um livro do princípio da vida literária do escritor. Camilo, mais tarde, tentará apanhar o comboio da nova escola, a escola realista, mas fá-lo de uma maneira que não é isenta de chacota. Mas isso são contas de outro rosário...
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