O poeta Manuel António Pina nasceu a 18 de Novembro de 1943. Faria hoje 70 anos, se fosse vivo.
Foi jornalista e escritor. Em 2011 recebeu o prestigiado Prémio Camões.
A sua obra incidiu principalmente na poesia e na literatura infanto-juvenil, embora tenha escrito também diversas peças de teatro e de obras de ficção e crónica.
Conheço, confesso, apenas a sua poesia. Mas basta-me, porque Manuel António Pina escreveu poesia como eu gosto. Uma poesia que, muitas vezes, conta uma história.
É o caso deste poema
Esplanada
Naquele tempo falavas muito de perfeição,
da prosa dos versos irregulares
onde cantam os sentimentos irregulares.
Envelhecemos todos, tu, eu e a discussão,
agora lês saramagos & coisas assim
e eu já não fico a ouvir-te como antigamente
olhando as tuas pernas que subiam lentamente
até um sítio escuro dentro de mim.
O café agora é um banco, tu professora de liceu;
Bob Dylan encheu-se de dinheiro, o Che morreu.
Agora as tuas pernas são coisas úteis, andantes,
e não caminhos por andar como dantes.
Manuel António Pina (1991)
O poema alude, de forma admirável, à inexorável voragem do tempo e dos lugares. Mostra-nos dois tempos distintos: primeiro, um passado sedutor; depois, um presente inglório, incapaz de esboçar qualquer réstia de ilusão. Tudo, desde um certo idealismo, soçobrou à passagem do tempo por culpa das fraquezas da vida (“Dylan encheu-se de dinheiro”), ou da força da morte (“o Che morreu”).
Manuel António Pina ofereceu à nossa Língua excelentes poemas, e este "Esplanada" é sem dúvida um daqueles que ficam na nossa memória.
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