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quinta-feira, 13 de março de 2014

Para os braços da minha mãe

[…] O salão era excessivamente grande para mim, os cães ladravam para o agouro das trevas, eu estava só no mundo. De longe, da minha infância perdida, veio a ternura da memória, a face cansada de minha MÃE, a luz suave de tudo para nunca mais. E uma saudade densa caiu-me, como um peso, na alma. E chorei longamente, um choro recolhido, só choro para mim. Chorei quanto pude, até que a noite foi minha irmã e eu fui irmão da noite, um diante do outro, calados e de mãos dadas.
Então lembrei-me, por entre o pranto, de um pequeno saco de figos que minha MÃE me dera à despedida. Procurei-o na saca da roupa, puxei-o para a cama. E o sabor deles, que me encheu a alma, trouxe-me a presença de um carinho morto, como se minha MÃE ali me estivesse velando e houvesse ainda aldeia à minha volta […].

Vergílio Ferreira, in “Manhã Submersa”

Não sei se o poeta e cantor Pedro Abrunhosa alguma vez leu a "Manhã Submersa", de Vergílio Ferreira. Se leu, então bem se poderia ter inspirado neste romance para criar esta bela obra.



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