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segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

Quando a cultura foi de Ferro

Acabei de ler "António Ferro - O Inventor do Salazarismo", da autoria de Orlando Raimundo. Li-o de supetão, porque, apesar dos avisos, achei por bem saber até onde ia o autor no seu intento de tudo arrasar. É realmente um livro arrasador. E não é só o biografado. Por caminho, foram apoucados e apequenados nomes pelos quais eu tinha (e tenho) muita admiração, como por exemplo Almada Negreiros, Leitão de Barros, Cottinelli Telmo e, até, o cineasta Manoel de Oliveira! Citei estes nomes, mas podia citar mais. Acha uma vergonha o facto de Almada Negreiros, anos mais tarde do célebre Manifesto, ter trabalhado com Júlio Dantas! A todos os que colaboraram com Ferro (não só o Almada, mas muitos outros) mimoseia-os com o título de «Vendidos por Dinheiro». 

O livro contém muita informação, a maioria dela eu ignorava por completo. Fala das obras que foram da iniciativa do Ferro ou obras em que ele foi o grande impulsionador:
Cinemateca nacional, Verde Gaio, Bibliotecas ambulantes, Cinema popular ambulante, Teatro popular ambulante, Tapetes de Arraiolos (concursos, prémios), Director da Revista Orfheu e outras, Crítico literário, Coleccionador de discos de jazz, Pousadas, Aldeia mais portuguesa (1938), Concursos (vários) de Literatura, Exposição do Mundo Português, Indústria cinematográfica (Tóbis), Marchas Populares de Lisboa, Comemorações da tomada de Lisboa aos Mouros (1947), Director da Emissora Nacional, Responsável pela vinda a Portugal de personalidades estrangeiras da Cultura (pe. Luigi Pirandello, Elliot, Cecília Meireles, Filipo Marinetti), Galos de Barcelos, Bandas de Música, Museu da Arte Popular em Belém, Pavilhão de Portugal na Exposição de Paris em 1937, Círculo Eça de Queirós (aqui em colaboração com António de Eça Queirós, filho do grande Eça), Estações floridas dos CF (concursos), Reabilitação do Paço dos Duques de Bragança em Guimarães, Serões para Trabalhadores…parece obra...

E todavia, o autor descobre sempre intenções escabrosas em tudo o que Ferro interveio. Cito alguns mimos: chico-esperto, plagiador, sem carácter, emproado, pedante, hipócrita, provinciano, simulador, ficcionista, percurso sinuoso, traidor (ao jornalismo), manhoso, falsificador, viciador, etc..

Enfim, que dizer...

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