A minha Lista de blogues

sábado, 28 de novembro de 2020

Viva a Infopédia!

O meu pai lia a enciclopédia como se de uma narrativa se tratasse. Quero dizer, lia alfabeticamente coisa depois de coisa, meio a aprender sobre tudo com a única regra da ordem do alfabeto, interessado em qualquer assunto, qualquer detalhe. Assim, durante todos os anos em que o pude conhecer. Eu achava que havia uma dimensão alarve nas enciclopédias, algo de uma magnífica gula pelo conhecimento.






Sou escritor porque me fascinei cedo pelas palavras e pela sua plasticidade, podendo ser levadas a dizerem até o seu contrário. Para surpreender o meu pai, julgo que me convenci da Literatura muito porque ela parece caducar continuamente as definições, obrigando a definições novas, a novos conhecimentos. A Literatura aumenta o que se sabe, aumenta muito o que se sabe e espera de uma mesma palavra.

Cumprimentar os leitores da Infopédia é, de algum modo, cumprimentar essa vasta multidão que procura manter-se atempada com o que se sabe de algo num dado momento. Fico a pensar no meu pai, que já não viu este projecto, e em como se haveria de maravilhar com sua impressionante informação, dotando cada um de nós de uma potencial erudição que nos deve tanto enriquecer quanto humildar.

O Agostinho da Silva contava de uma senhora que dizia que a escola perfeita haveria de ser aquela que tivesse sempre a porta aberta para que lá fôssemos perguntar aquilo que precisássemos de saber. Penso agora, a Infopédia é um pouco essa escola.

Usei sempre a palavra como sustento. O que o mundo não me pôde dar, a palavra inscreveu no espírito, e muito do que faltaria deixou de faltar. A importância da palavra, para mim, foi absoluta, elementar forma de sobrevivência.

Conto sobre isso no meu novo livro, Contra mim, um périplo pela minha infância que não pretende exercer a saudade, antes redescobrir como me comprometi irremediavelmente com a escrita e como posso partir dessa memória para um certo renascimento urgente depois de tanta clausura no susto da pandemia. O meu livro é uma tentativa de ter futuro, encontrar a resistência pela maravilha de relembrar como em criança ficaram definidos os principais desejos, as principais vontades.

Valter Hugo Mãe

Sem comentários:

Enviar um comentário