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sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Um soldado igual...


Ontem, fui ver o espectáculo “Uma Noite na Casa de Amália”, que está em cena no Teatro Politeama. La Féria ficciona um espectáculo em que Amália Rodrigues recebe na sua casa de São Bento o poeta brasileiro Vinicius de Moraes e tem como convidados Natália Correia, David Mourão-Ferreira,  Ary dos Santos, Maluda e Alain Oulman. Ele recria uma noite, nas vésperas do Natal de 1968, em que as personagens trocam opiniões, poemas, canções e momentos de humor em que a Cultura Portuguesa e Brasileira se entrecruzam sob o olhar de Amália.

Gostei de ouvir Amália cantar “por teu livre pensamento/foram-te longe encerrar/tão longe que o meu lamento/não te consegue alcançar/E apenas ouves o vento/e apenas ouves o mar/…/levaram-te a meio da noite..”. Os versos são do poema Abandono de David Mourão-Ferreira.

Gostei de ouvir a Natália Correia fazer a defesa do poeta perante os Senhores Jurados. No final do poema, a Natália elevou ainda mais a voz para gritar: ó subalimentados do sonho! / a poesia é para comer.

Gostei de ouvir O Dia da Criação, de Vinicius de Moraes: Hoje é sábado, amanhã é domingo/ Não há nada como o tempo para passar/ Foi muita bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo/ Mas por via das dúvidas livrai-nos meu Deus de todo mal./…Porque hoje é sábado…

A meio da tertúlia, alguém toca à porta da casa da Amália. Alain Oulman dá um salto do banco do piano. Será a PIDE?. O homem vive apavorado com a ideia de, a qualquer momento, ser levado a meio da noite, como diz o poeta. Foram ver. Era um soldado que queria oferecer um ramo de rosas a Amália, porque, no dia seguinte, ia embarcar para Luanda. Estamos em plena Guerra do Ultramar. O soldado pode entrar. Um alferes miliciano com a divisa ainda novinha em folha. Aqui estremeci. Aquele soldado era igual a outro (que só eu conheço) que também embarcou para Luanda no dia 18 de Novembro de 1972 (há 40 anos). Depois de oferecer as flores à Amália, o soldado sai, sem antes dedicar uma canção a Amália: Senhora, partem tão tristes/ meus olhos por vós, meu bem,/ que nunca tão tristes vistes/ outros nenhuns por ninguém.

Comovi-me! Caramba, um homem não é de ferro!

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