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quinta-feira, 6 de junho de 2013

A aventura de Ferreira de Castro na Amazónia


Acabei de ler o romance “A Selva”, do escritor Ferreira de Castro. Confesso que me atirei ao livro um bocadinho a contragosto. Mas o compromisso com o Grupo de Leitura, assim me obrigou. Afinal, eu não tinha razão nesse meu receio. Estamos perante um romance magnífico, um belo romance, em que o social ganha uma grande importância e no qual os Neo-Realistas, anos mais tarde, encontraram forte inspiração.

Ferreira de Castro escreveu o livro em 1926, quinze anos depois de ter abandonado o Seringal, lá bem no interior da Amazónia. É verdade, o autor esteve mesmo naquele inferno verde, durante cerca de 4 anos. 

Podemos assim afirmar que estamos perante um romance com carácter auto-biográfico, escrito como se fosse um diário. 

Ferreira de Castro escreve com uma grande profusão descritiva e minúcia dos detalhes, relativos ao clima e à variedade da flora local. Mostra como, naquele cenário, ao mesmo tempo fantástico e tenebroso, vigora a lei do mais forte. Na selva, só os seres mais fortes e mais aptos sobrevivem. 

Ele sobreviveu, mas arriscou muito. Arriscou-se a não sair de lá nunca, como acontecia a muitos. O patrão, o Juca Tristão, montou um esquema através do qual os trabalhadores estavam sempre em dívida. Era o famoso “saldo”, que estava sempre a negativo para os seringueiros. A dívida começava logo com o custeio das despesas da viagem e prosseguia, quase eternamente, com o consumo de géneros na "venda". O saldo que se mantinha por anos e anos, impedindo a libertação, o resgate.

Alberto, a personagem principal do romance, o alter-ego do autor, consegue sobreviver, graças, primeiro, à amizade do companheiro Firmino e, depois, à ajuda do Sr. Guerreiro, o guarda-livros do armazém, para onde, por sorte, Alberto fora transferido ao fim de algum tempo.

Ao fim de 4 anos, uma carta libertadora da mãe dá-lhe condições para deixar aquele inferno. Mas, antes de partir, vê o negro Tiago vingar os seus camaradas que, por tentarem uma fuga, foram duramente castigados pelo patrão Juca Tristão. O velho Tiago, que sempre respeitara o patrão, desta vez não perdoou. Deitou fogo à habitação do patrão e, ao mesmo tempo, libertou os camaradas presos.

«(….) quando chegasse a manhã, derramando da sua inesgotável cornucópia a luz dos trópicos, haveria apenas um montão de cinzas, que o vento, em breve, dispersaria…». Termina, assim, a aventura de Alberto na Amazónia: com um incêndio redentor.

Ferreira de Castro emigrara para o Brasil em 1911. Pouco tempo esteve em Belém do Pará, na casa do tio Macedo, irmão da mãe. Desempregado, aceitou ir para o interior da selva, por orgulho talvez, para não estar dependente desse tio. Regressou a Belém do Pará em 1916, passados os 4 anos. Esteve aqui, nesta cidade, mais 3 anos, fazendo jornalismo para sobreviver. Todavia, o contacto com compatriotas ter-lhe-á feito renascer as saudades da pátria. 

Regressou a Portugal em 1919 com apenas quatrocentos escudos no bolso, mas com ricas memórias, as quais, anos mais tarde, o levaram a escrever este belo romance!

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