Hoje é Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. Hoje é, portanto, Dia de Camões.
Todavia, muitos enigmas sobre a vida de Camões chegaram até hoje. E é, provavelmente, pouco o que sabemos da sua vida, em comparação com o que ignoramos. Começamos por não saber sequer o ano em que nasceu. Com alguma segurança, parece poder afirmar-se que nasceu em data que se deve compreender entre 1517 e 1525. Muitos estudos, nenhumas certezas. O final de vida será, porventura, mais conhecido, mas não deixa de apresentar incertezas. Segundo uns, Camões, já em Lisboa, vivendo de uma pequena pensão que o rei D. Sebastião lhe deu, era visto, frequentes vezes, junto da Igreja de São Domingos. Velho e alquebrado, movia-se com o amparo de muletas. Falava-se também nas humildes relações do Poeta no fim da vida, e ficaram de pé duas lendas cuja exacta significação está por determinar: a do escravo Jou, que pedia esmola para ele, e a de uma negra, que o protegeu e alimentou no fim da vida.
Apenas algumas semanas antes da sua morte escreveu Camões o soneto "Os Reinos e os Impérios Poderosos", já depois da batalha de Alcácer Quibir, em plena crise dinástica de 1580. Este soneto permite assim, segundo alguns biógrafos do poeta, fixar a data da morte em 1580, confirmando definitivamente a versão oficial, que se estabilizava na frágil base de um documento da burocracia régia.
Na época em que morreu, grassava violentamente em Lisboa uma epidemia de peste. O enterro fez-se «pobre e plebeiamente», como refere o biógrafo Pedro de Mariz, e o corpo foi lançado numa vala comum junto da igreja de Santana.
Nenhuma notícia ficou sobre o destino do seu espólio literário. Por maior que fosse a miséria, certamente viveria de papéis que em vida não pôde publicar. Nada se disse, nem então nem mais tarde, sobre o caminho levado por esse espólio, que revelaria segredos que havia poderosas forças interessadas em ocultar.
Hoje é o dia em que se comemora o nosso grande poeta Luís de Camões, aquele que, como ele próprio diz, teve «a vida mais desgraçada que jamais se viu»:
O dia em que nasci moura ou pereça
Não o queira jamais o tempo dar;
Não torne mais ao mundo, e, se tornar,
Eclipse nesse passo o sol padeça.
A luz lhe falte, o sol se [lhe] escureça,
Mostre o mundo sinais de se acabar;
Nasçam-lhe monstros, sangue chova o ar,
A mãe ao próprio filho não conheça.
As pessoas pasmadas, de ignorantes,
As lágrimas no rosto, a cor perdida,
Cuidem que o mundo já se destruiu.
Ó gente temerosa, não te espantes,
Que este dia deitou ao mundo a vida
Mais desgraçada que jamais se viu.
Luís de Camões
Sem comentários:
Enviar um comentário