Barbosa du Bocage nasceu em Setúbal, no dia 15 de Setembro de 1765. Há 248 anos, portanto! Poeta da emotividade, quase romântico. Um pré-romântico? Deixou-nos a sua poesia em “Rimas” (Tomos I, II e III). Adorava a popularidade, mas acabou vítima da sua rebeldia. Andou pelo mundo. Esteve no Oriente (Goa). Desertou da Marinha, onde era oficial, e, mais tarde, volta a Portugal. Tem uma surpresa. A sua amada, Gertrudes, havia casado com o irmão. Boémio e mulherengo. Bocage é um animal à solta. Mas, boémia ou tertúlia?
Entra para a Nova Arcádia, com o nome de Elmano Sadino. Porém, rapidamente se incompatibiliza com os seus confrades Acaba expulso. Em 1797, o intendente Pina Manique quer pôr ordem na cidade de Lisboa e, na onda, Bocage é encarcerado no Cadeia do Limoeiro. Ao fim de um ano, é internado no Real Hospício das Necessidades, dirigido pelos Padres Oratorianos. É tempo para acabar o Tomo II (talvez a melhor poesia), dedicado à amizade e aos amigos que o ajudaram a sair da cadeia.
De 1799 a 1801 trabalhou sobretudo com Frei José Mariano, um frade brasileiro, politicamente bem situado e nas boas graças de Pina Manique, que lhe deu muitos trabalhos para traduzir. Em 1804, é tempo de escrever o Tomo III, o menos conseguido talvez, numa altura em que estava já muito doente. Débil e acamado ditava para quem escrevia. Morreu de aneurisma, apenas com 40 anos. Vivia, desde 1801, em casa por ele arrendada no Bairro Alto, naquela que é hoje o n.º 25 da travessa André Valente, na companhia da irmã, em completa miséria.
É deste tempo o poema de todas as contradições, o “ Já Bocage não sou!..."
Já Bocage não sou!... À cova escura
Meu estro vai parar desfeito em vento...
Eu aos céus ultrajei! O meu tormento
Leve me torne sempre a terra dura.
Conheço agora já quão vã figura
Em prosa e verso fez meu louco intento.
Musa!... Tivera algum merecimento,
Se um raio da razão seguisse, pura!
Eu me arrependo; a língua quase fria
Brade em alto pregão à mocidade,
Que atrás do som fantástico corria:
Outro Aretino fui... A santidade
Manchei!... Oh! Se me creste, gente ímpia,
Rasga meus versos, crê na eternidade!
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