(...) Era feio, e ao princípio tinha-lhe medo; mas assim que ele me mandou um acróstico... V. Ex. sabe fazer acrósticos?
- Ainda não me pus a isso.
- Pois como eu me chamo Tomásia Leonor e tenho catorze letras fez-me ele um soneto que me deu volta à cabeça, e tamanho incêndio que me tomou o peito, que o amei até à morte, e ainda agora, ficando eu viúva aos trinta e nove anos, fui, sou e serei fiel à sua memória.
Neste ponto, D. Tomásia, ferida na alma pelo acróstico memorando, chorou (...)
Camilo Castelo Branco, in A Queda dum Anjo
De repente, temi que Camilo não soubesse fazer contas. Um soneto tem 14 versos, enquanto Tomásia Leonor tem 13 letras. Assim sendo, como fazer o acróstico? Será que Camilo se enganou mesmo?
Não, o que acontece é que o livro foi escrito em 1866 e, ao tempo, Tomásia escrevia-se Thomásia. Mais uma letrinha (o mesmo "h" de pharmácia). Deste modo, já lá estão as catorze letras necessárias para a construção do soneto. O acróstico deu a volta à cabeça da senhora Tomásia. E a brasileira Ifigénia deu a volta à cabeça do Calisto Elói...perdidamente. O anjo do Portugal velho estava prestes a cair!
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