Anteontem, vi num dos canais da televisão um programa (25 minutos) dedicado ao poeta António Nobre. Ao final do mesmo dia, uma mão amiga deixou no Facebook uma Petição Pública contendo um apelo para a recuperação da casa onde morreu o poeta, situado na Foz, no Porto. Há coincidências felizes. O poeta António Nobre é uma das grande figuras da Literatura Portuguesa e, todavia, injustamente esquecido.
É o poeta de um só livro, o "Só", cuja publicação ocorreu em 1892. Em rigor, há outro livro, “Despedidas”, com os primeiros poemas, que o poeta guardou só para si, mas o irmão Augusto veio a publicar após a morte do poeta.
O "Só" teve duas edições em vida do poeta, sendo a segunda bastante alterada. Aliás, esta segunda edição abre logo com o poema "Memória" que não constava da primeira. Poemas muito auto-biográficos, muito longos. Existe uma Fotobiografia do poeta António Nobre, da autoria do escritor Mário Cláudio, muito interessante de consultar.
Podemos descobrir o poeta António Nobre no Museu Quinta de Santiago, em Leça da Palmeira, na foz do rio Leça. O edifício, onde está o Museu, tem uma história que merece ser contada. O Dr. Santiago de Carvalho era um advogado de Guimarães, que veio aqui construir um palácio com a ajuda de um arquitecto italiano. Casa com uma vista soberba sobre a foz do rio Leça, que se perdeu, mais tarde, com as obras da construção do Porto de Leixões. O casal ficou desanimado, mais ainda com a morte de um filho. O Dr. Santiago morreu a seguir e a viúva foi morar para outro lado. Ficou na casa um busto soberbo do filho do sala, da autoria do arquitecto Teixeira Lopes. Mais tarde, a casa veio à posse da Câmara Municipal de Matosinhos que instalou ali o Museu António Nobre.
O poeta António Nobre amava profundamente esta terra. Numa carta a um amigo, dizia: “Tenho educado a minha alma em Leça”. Foi estudar para Coimbra com 18 anos. Chumbou dois anos seguidos. Foi estudar para Paris, onde se licenciou. Concorreu à carreira diplomática, onde teve a ajuda do amigo Eça de Queirós. Porém, não chegou a exercer, porque, entretanto, ficou profundamente doente. Morreu aos 33 anos, vítima de uma tuberculose pulmonar.
No Museu podemos ver muitos documentos pessoais: uma carta para a irmã, dois dias antes de morrer; alguns poemas inéditos. Na Praia da Boa Nova, ali perto, podemos ver uma lápide numa rocha com uma estrofe do poeta. Foi um homem só. Correu o mundo, mas sempre com saudades da sua terra, que não dos políticos: «...Nada me importas, País! seja meu Amo/O Carlos ou o Zé da T´resa...Amigos/Que desgraça nascer em Portugal!». Um imenso vazio...uma profunda melancolia.
É tempo de revisitar este livro de poemas que tem direito a figurar entre as grandes obras da Literatura Portuguesa. Mas, cuidado! É o poeta que nos avisa: «...tende cautela, não vos faça mal/Que é o livro mais triste que há em Portugal!».
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