Conhecia pouco, confesso, do escritor José Rodrigues Miguéis, dele apenas lera um Conto de Natal. Terminei agora de ler A ESCOLA DO PARAÍSO, que me surpreendeu positivamente. Gostava de o ter lido há mais tempo, só teria ficado a ganhar.
José Rodrigues Miguéis recorda, neste livro, a sua primeira infância e aborda um período da História de Portugal muito rico em eventos: os últimos anos da Monarquia, a aristocracia decadente, a agitação carbonária, o regicídio, a implantação da República. Tudo contado na terceira pessoa, pelos olhos de um menino que cresceu a ver o brilho do sol das sacadas pombalinas viradas ao Tejo.
Gabriel é o mais pequeno, personagem central; tem uma irmã, Águeda; um irmão, Santiago (o mais velho dos três); pai e mãe, os avós paternos galegos, as avós maternos da Beira e mais uns quantos tios e primos, dos quais se destaca a figura e personagem incrível do tio Amândio, o “Boi-do-Val'. É, por isso, um livro auto-biográfico.
Por vezes o narrador, o pequeno Gabriel, cede o lugar à mãe na narrativa, a doce D.Adélia, que conta episódios da sua meninice na Beira e dos primeiros anos na capital. É pela boca dela que conhecemos a história incrível do famoso salteador português João Brandão, que ficou conhecido como O Terror da Beiras. A D. Adélia conheceu o João Brandão em pessoa e dele nos dá uma visão idílica, a forma, talvez até, como o povo o viu e recorda. João Brandão foi condenado pelo Tribunal e deportado para Angola onde morreu em 1880. Mas hoje na vila de Tábua, sua terra natal, existe a Biblioteca Municipal João Brandão. Afinal, herói ou bandido?
José Rodrigues Miguéis escreveu A ESCOLA DO PARAÍSO num registo realista, sem, contudo, ser programático. Apresenta-nos um realismo crítico e irónico, hábil em diálogos e na caracterização psicológica das personagens.
São contos interligados (há ali um fio condutor), mas independentes e autónomos, que se juntam para constituir um quase romance. Vale a pena ler!
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