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sábado, 5 de janeiro de 2019

Diálogos poéticos - Sophia e Fernando Pessoa

O Infante D. Pedro é, para muitos historiadores, e não só, uma personalidade fulcral da história portuguesa. Personalidade extraordinária, mas mal tratada: caído em desgraça, a sua memória foi deliberadamente apagada ou distorcida. Só nos séculos XIX e XX a sua figura e actuação política foram reavaliadas e historicamente valorizadas, ainda que continue a ser, por vezes, “julgado à luz de sectarismos incompreensíveis”, que impossibilitam um julgamento justo. 

Muito por acção dos poetas, aqui citamos Sophia e Pessoa, ele vem sendo colocado no lugar da História que merece.  

Infelizmente, não recebeu só «insulto e morte», como diz Sophia, recebeu também esquecimento. 

Pranto pelo Infante D. Pedro das Sete Partidas

Nunca choraremos bastante nem com pranto
Assaz amargo e forte
Aquele que fundou glória e grandeza
E recebeu em paga insulto e morte.

Sophia de Mello Breyner, 17 /12/1961 


Fernando pessoa retrata-o sob o signo da “claridade”: “Claro a pensar, e claro no sentir, / E claro no querer”, isto é, como homem determinado, sábio e lúcido. Pessoa invoca nestes versos a consolidação da ideia imperial de Portugal como momento sagrado de passagem para uma futura instauração do Quinto Império.

D. Pedro, Regente de Portugal

Claro em pensar, e claro no sentir,
E claro no querer;
Indiferente ao que há em conseguir
Que seja só obter;
Dúplice dono, sem me dividir,
De dever e de ser —

Não me podia a Sorte dar guarída
Por não ser eu dos seus.
Assim vivi, assim morri, a vida,
Calmo sob mudos céus,
Fiel à palavra dada e à ideia tida.
Tudo o mais é com Deus!

Fernando Pessoa, in “Mensagem”

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