Príncipe estranho
A ti eu canto e a mais ninguém,
Príncipe estranho por quem
Chamam as horas obscuras de delírio.
Senhor dos bailados, negro lírio
A ti eu canto e a mais ninguém.
Misto de ideal e lixo,
Semideus e semibicho
Fabuloso, mágico, lendário
E mais real do que as vozes da rua,
Em tudo a ti próprio contrário.
A tua luz é um sol escuro
E a tua sombra sempre da luz ao lado
É o céu mais negro e mais sem lua
Mas o mais constelado.
E a ti eu canto e a mais ninguém,
Príncipe estranho, senhor dos bailados,
Imóvel a chorar e a sofrer,
À luz dos lumes apagados.
Sophia de Mello Breyner Andresen | "Dia do mar", pág. 30 | Edições Ática, 1974
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