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quinta-feira, 11 de março de 2021

Coro dos empregados da Câmara


Lembrando Mauel da Fonseca que partiu, há 28 anos,para o céu dos poetas.


Coro dos empregados da Câmara

É tão vazia a nossa vida,
é tão inútil a nossa vida
que a gente veste de escuro
como se andasse de luto.
Ao menos se alguém morresse
e esse alguém fosse um de nós
e esse um de nós fosse eu...

... O Sol andando lá fora,
fazendo lume nos vidros,
chegando carros ao largo
com gente que vem de fora
(quem será que vem de fora?)
e a gente praqui fechados
na penumbra das paredes,
curvados prás secretárias
fazendo letra bonita.

Fazendo letra bonita
e o vento andando lá fora
rumorejando nas árvores,
levando nuvens pelo céu,
trazendo um grito da rua
(quem seria que gritou?)
e a gente praqui fechados
na penumbra das paredes,
curvados prás secretárias
fazendo letra bonita,
enchendo impressos, impressos,
livros, livros, folhas soltas,
carimbando, pondo selos,
bocejando, bocejando,
bocejando.


Manuel da Fonseca, in Planície

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