Nascido faz hoje 180 anos, Antero de Quental (Ponta Delgada, 18 de Abril de 1842 — 11 de Setembro de 1891) poria termo à sua vida, como outros homens de génio. Sobre o assunto, pensou e escreveu Manuel Laranjeira — que viria também a causar a sua própria morte:
O PESSIMISMO NACIONAL
“Diz-se que a sociedade portuguesa vai atravessando uma crise sobreaguda de sombrio pessimismo, o que é uma verdade de todos os dias; e há quem afirme com argumentos cheios de brilho literário que esse pessimismo é o sintoma claro e indiscutível duma degenerescência do nosso povo, o que é uma hipótese, se não totalmente errónea, pelo menos infinitamente duvidosa e muito discutível.
Decerto: numa terra onde homens de génio, como Antero de Quental, Camilo e Soares dos Reis, têm de recorrer ao suicídio como solução final duma existência de luta inglória e sangrenta; numa sociedade onde o pensamento representa um capital negativo, um fardo embaraçoso para jornadear pelo caminho da vida; num povo onde essa minoria intelectual, que constitui, o orgulho de cada nação, se vê condenada a cruzar os braços com inércia desdenhosa, ou a deixá-los cair desoladamente, sob pena de ser esterilmente derrotada; num país, onde a inteligência é um capital inútil onde o único capital deveras produtivo é a falta de vergonha e a falta de escrúpulos - o diagnóstico impõe-se “de per si“.
O desalento e a descrença alastram. No ar respira-se o cepticismo. E à medida que o mal-estar colectivo se vai resolvendo quotidianamente em tragédias individuais, o sentido da vida, em Portugal, parece ser cada vez mais fúnebre e mais indicativo de que vamos arrastados, violentamente arrastados por um mau destino, para a irreparável falência e de que nos afundamos definitivamente.
Mas porquê? O mal, na verdade, será a morte? Estará isto, como se diz expressiva e resumidamente, irremediavelmente perdido? Estará a raça portuguesa (deixem-me exprimir assim), como agregado autónomo, como indivíduo colectivo, condenada a desaparecer integralmente, isto é, a ser dissolvida na massa comum da espécie humana? Será Portugal, na frase cruel do ”lord“ inglês, - uma nação morta, destinada a ser devorada pelas nações vivas?“
MANUEL LARANJEIRA (Vergada, Mozelos, Santa Maria da Feira, 17 de Agosto de 1877 - Espinho, 22 de Fevereiro de 1912), médico, poeta, dramaturgo e articulista, em “O Pessimismo Nacional”.
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