A minha Lista de blogues

domingo, 14 de agosto de 2022

Em Agosto com Nuno Júdice

Lição

(a Eugénio de Andrade)


É no verão que se aprende a poesìa,
disseste; e em cada um dos verões que a vida
nos traz, em que se aprende e desaprende
o mais certo, entre o amor e a morte,
que cada um tem de saber. No quintal,
onde já não existe a romãzeira da infância,
ouvindo o vento que sobe da terra, trazendo
um antigo furor de ervas e raízes; ou
no largo aberto para o tempo que foi,
e esse que há-de vir. Abro contigo o livro
branco de todos os lugares e de todos
os nomes: o livro da poesia, aprendida
com o desfolhar dos verões, enquanto
as mães se despedem da vida, e uma baça
adolescência se confunde com a névoa
de agosto. Leio devagar, como se
interpretasse, e um fogo embarcado
nos olhos enfunasse a mais obscura
das imaginações: o verso, aprendido
no leito da memória, no verão
em que se aprende a poesia, disseste.

«Aprendíamos a amar, aprendíamos/a morrer»
Eugénio de Andrade


Nuno Júdice in “Pedro, lembrando Inês”

Sem comentários:

Enviar um comentário