Quadro “Festejando o São Martinho”, segundo José Malhoa. Porém, “Os bêbados” segundo o povo. Pintado em 1907 mostra bem a forma como o pintor via o povo português? Passam, hoje, 168 anos que nasceu o pintor José Malhoa, nas Caldas da Rainha. Morreu em Figueiró dos Vinhos, em 26 de Outubro de 1933.
O Museu José Malhoa nas Caldas da Rainha foi o primeiro Museu em Portugal, construído de raiz. À frente está um busto, do escultor Leopoldo de Almeida. José Malhoa foi um vulto grande assim como Júlio Dantas nos princípios do século XX. Muito apreciados no seu tempo. No entanto, tiveram os seus detractores. Júlio Dantas de forma mais violenta, através do manifesto Anti-Dantas, do mestre José Almada Negreiros. José Malhoa não chegou a tanto. Foi um naturalista. Pintava o que achava que os seus olhos viam.
Viveu numa época de grandes pintores: Columbano, Silva Porto, Condessa, Carlos Reis, Veloso Salgado, Henrique Poisão, João Vaz, António Ramalho, António Saúde….Mas Malhoa está num lugar à parte!
O Desenho do Quadro “Os bêbados” foi comprado por Azeredo Perdigão. O Desenho é ainda mais brutal. A figura do ferrador (ainda com a bata do serviço).
O Quadro “ Fado” está em Lisboa, no Museu do Fado, em Alfama. É um pouco como o pintor via o povo português. Ele era um homem do povo. A mulher do quadro é a Adelaide. A “Adelaide da Facada” (uma cicatriz de uma faca do próprio Amâncio?). A história do dinheiro, como versão que correu. Não, foi o companheiro, o célebre “Amâncio” (guitarrista, proxeneta), que não deixou que a alça descesse (há um desenho com ela em baixo). A veracidade desta versão é atestada num livro de António Montez, Director do Museu nas Caldas da Rainha.
Amâncio era um rufia, que andava sempre com uma navalha de mola no bolso. Moravam numa casa na Rua do Capelão, que o pintor visitava com frequência. Por insistência do Amâncio, o pintor também lhe fez o retrato, que lho entregou. Todavia, nada se sabe acerca do paradeiro do quadro. Vendeu-o sem demora. O quadro é de 1910 e levou 2 anos a ser pintado.
Outros Retratos célebres:
O retrato da jovem Laura Sauvignetti, pintado em 1888, que ela, já velha, doou ao Museu;
O retrato do Príncipe Luís Filipe, pintado em 1908 e ficou incompleto, ele avisou que faltaria à próxima sessão porque ia a Vila Viçosa com o pai. José Malhoa que assinava os seus quadros de forma muito discreta neste caso assinou o seu nome, ao contrário do hábito, com uma grande força (é contra o assassinato do jovem príncipe que, por tão novo e sem responsabilidades na res pública, ainda não tinha contas a prestar).
O retrato da Rainha D. Leonor, pintado em 1926, houve quem dissesse muito mal. Muito discutido (Rainha ou menina da Rua do Capelão?); na verdade, uma escultura existente em Beja é bem mais real.
Quadro “As Promessas”, pintado em 1933, ano da sua morte, inspirado numa procissão em Figueiró dos Vinhos;
Quadro “ Meu Desalento”, inacabado, porque entretanto pintor morreu. Este último quadro dá que pensar. Como é que um homem tão admirado se deixou cair assim no desalento. Pois, a sua grande solidão! Vivia na companhia de uma sua irmã.
A pintura ia já noutro caminho e ele sentia-se um tanto desalentado. Fialho de Almeida disse dele: “a sua pintura é uma odisseia rústica nacional”. José Malhoa pintou o povo como ele o via, um povo atrasado, amarrado por surperstições, misérias…pintou a vida real tal como ela é.
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