«[…] A minha biografia começa aqui — na rampa.
Nasci a 28 de Janeiro de 19..., às três horas da tarde de uma sexta-feira, dizia minha mãe. É a hora de Cristo, dizia minha mulher. Sorrio, encolho os ombros — também o cansaço é verdade. Nasceram três irmãos antes de mim, mas foram morrendo pela infância fora. Nessa altura eram ainda vivos todos três, suponho. Era o começo do Verão, talvez, minha mãe e a mãe dela subiam a rampa para a missa de domingo. E um momento, minha mãe hesitou com uma inesperada tontura. Parou, apoiou-se a minha avó:
- Não sei o que tenho, minha mãe.
Ela varou-a de iluminação e alarme:
- Não me digas! Não me digas que já arranjaste outra desgraça.
A «desgraça» era eu. […]»
(Vergílio Ferreira, in Alegria Breve, 13)
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