Se eu definisse o tempo como um rio,
a comparação levar-me-ia a tirar-te
de dentro da sua água, e a inventar-te
uma casa. Poria uma escada encostada
à parede, e sentar-te-ias num dos seus
degraus, lendo o livro da vida. Dir-te-ia:
«Não te apresses: também a água deste
rio é vagarosa, como o tempo que os
teus dedos suspendem, antes de virar
cada página.» Passam as nuvens no céu;
nascem e morrem as flores do campo;
partem e regressam as aves; e tu lês
o livro, como se o tempo tivesse parado,
e o rio não corresse pelos teus olhos.
Nuno Júdice
«Não te apresses: também a água deste rio é vagarosa, como o tempo que os teus dedos suspendem, antes de virar cada página», diz o poeta.
Este poema tem fortes semelhanças com a poesia de Ricardo Reis, heterónimo de Fernando Pessoa: «Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio […].
O assunto deste poema do Nuno Júdice, como na obra poética de Ricardo Reis, parece poder concretizar-se no “Carpe diem” epicurista, isto é, no viver o dia de hoje, sem pensar no antes, nem no depois, viver o presente sem considerar o passado, nem o futuro.
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